26.6.03

Indignação (1). «Querida, ficas tão linda quando te zangas...» A ira pode ser muito agradável à vista, e essa descoberta não é de ontem.

Logo no princípio da Ilíada, Aquiles, enfurecido com o comportamento indigno de Agaménon, ameaça partir tudo, levantar o cerco, retirar os seus soldados e voltar para casa. O valor estético da indignação é reconhecido, pois, há pelo menos 3 mil anos, remontando às próprias origens da literatura ocidental.

O pior vinha depois. Aquiles passava-se dos carretos com alguma facilidade, mas logo as prosaicas realidades da vida se sobrepunham à emoção e ele era forçado a contemporizar, se necessário aceitando alguma compensação mesquinha. Por exemplo, Agaménon chamava-o à parte e fazia-lhe uma proposta: «Escuta, homem, não vale a pena zangarmo-nos. Eu aumento a tua parcela do saque e ainda levas uma escrava de bónus. Que dizes?» Insinua Homero, sabe-se lá com que secretas intenções, que Ulisses amansava imediatamente.

É este o problema da indignação. Provoca boa impressão, pode ser eficaz para se obter vantagens pessoais imediatas, mas deixa tudo basicamente na mesma.

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