16.9.03

Senão vão todos para a fossa dos crocodilos. Leio no DN de Sábado que José Luís Arnaut, ministro de coisa nenhuma, «exige que a selecção nacional tenha bons resultados desportivos de forma a compensar o esforço que o Governo e os cidadãos em geral estão a fazer para o Europeu de 2004». Embora não se trate de uma citação directa do ministro, o tom «ácido» (segundo o Público), que eu próprio confirmei ao ouvir as suas palavras na rádio, não deixa dúvidas: Arnaut lançou de facto um aviso ou uma ameaça nada velada à selecção.

Que sentido faz isto? Sabemos que, quando os jogos não corriam de feição para a selecção iraquiana, um dos filhos de Saddam prendia e torturava os jogadores. Por cá, já não estamos nessa fase, mas, pelos vistos, subsiste em alguns um caldo de cultura similar que podemos assim caracterizar: a) as vitórias e derrotas do futebol mexem com a honra da nação; b) o governo é o supremo guardião da honra da pátria; c) se os jogadores mancham o orgulho nacional, o governo tem o direito e o dever de puni-los pelos meios ao seu alcance.

Como os jogadores só vão à selecção porque querem e são na sua maioria milionários, estas ameaças, talvez eficazes quando dirigidas aos trabalhadores das fábricas que o ministro possui, deixam-nos completamente indiferentes.

Assim, este estilo serve apenas para revelar a pobreza da classe empresarial e política que temos. Como empresários, são absolutamente incapazes de motivar trabalhadores qualificados, mesmo quando se trata de meros futebolistas. Como políticos, limitam-se a manobras de baixa política destinadas a impressionar os parolos.

Porque o raciocínio do ministro Arnaut só pode ser este: se ganharmos o Euro 2004, o mérito será dele, que puxou umas orelhas a tempo; se perdermos, ninguém pode dizer que ele não avisou.

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