16.10.03

Não se paga, não se paga! Imaginemos que um sujeito tem um carro com um motor de baixo rendimento e diz assim: «Vou meter-lhe menos gasolina para ver se ele anda melhor». Ou, pior ainda: «Vou antes meter-lhe gasóleo, para ver se ele aprende». Surpresa das surpresas: no primeiro caso, o carro anda menos quilómetros do que antes. No segundo, fica logo parado no meio da estrada.

O que este exemplo pretende sugerir é que o aumento da eficiência do sistema educativo não se resolve dando menos dinheiro para a educação. Por isso, quando António Barreto diz que não se deve dar mais dinheiro para a educação porque não vale a pena subsidiar a inércia e a preguiça, está a proferir uma tolice disfarçada de sabedoria. Em boa lógica, uma coisa não tem nada a ver com a outra.

Enquanto a eficiência do sistema não melhorar (e não se vê como há-de melhorar só porque sim) atribuir-lhe menos dinheiro só pode conduzir a uma degradação da qualidade do ensino. Se houvesse um plano para melhorar a qualidade do ensino, as coisas seriam diferentes, mas eu não vejo que este governo tenha qualquer plano.

Mas ainda há outro problema: se houvesse um plano, ele custaria certamente dinheiro. É uma chatice, mas é verdade: se uma empresa (ou uma instituição) tem baixos níveis de qualidade e de produtividade, terá forçosamente que investir em instalações, em equipamentos, em formação, e por aí fora.

O que está em causa não é não investir, mas investir bem, ou investir melhor. Os que argumentam que nos últimos anos já se investiu muito em educação não percebem que, tendo em conta o atraso do país nesta matéria, teremos que investir muito mais que os outros durante muitos anos se quisermos apanhá-los. Lembrem-se sempre de que só agora atingimos as taxas de alfabetização que os países escandinavos alcançaram no final do século dezanove. Já há cem anos a nossa impagável classe dirigente achava que não valia a pena gastar mais com a educação. Mudam-se os tempos, mas a estúpida cegueira permanece.

Esta palavra de ordem («não se paga, não se paga») altamente popular entre os políticos de direita, em que Barreto gostosamente se inclui para ser popular nos meios que frequenta, é só uma forma demagógica de acariciar o egoismo espontâneo das massas ignaras que acreditam que o mundo ficaria melhor se ninguém pagasse impostos.

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