24.6.04

A bola induca

Alguns leitores deste blogue parecem desconfiar do potencial do futebol para instruir o público.

Ora vejam lá se eu não tenho razão:

1. Quando o Artur Jorge, já lá vão uns bons quinze anos, atribuiu ao Fernando Gomes uma excelente capacidade de "leitura do jogo", as massas amantes do futebol acederam à terminologia erudita da semiologia e do estruturalismo, hoje utilizada sem complexos pelo próprio Gabriel Alves.

2. Quando os portugueses começaram a ver por cá muitos jogadores com nomes como Balakov, Kostadinov, Mostovoi, Iuran, Kulkov ou Ovchinikov, tomaram finalmente conhecimento de que caíra o muro de Berlim e ruíra a União Soviética.

3. Quando os leitores da Bola se familiarizaram com as subtilezas do acórdão Bosmann, passaram a tratar por tu os intrincados temas do Mercado Único Europeu e da livre circulação dos cidadãos no espaço europeu.

4. Quando a SIC transmitiu em directo as Assembleias Gerais do Benfica, passou-se a discutir à mesa do café as diferenças entre activo bruto e activo líquido e a divagar sobre a capacidade do marketing para alavancar a capacidade de endividamento de uma empresa.

5. Quando Vale de Azevedo foi preso, até as crianças aprenderam o significado da palavra «peculato».

6. Quando as transferências dos jogadores passaram a ser feitas em euros, passou a ser mais fácil calcular a conversão para escudos.

7. Quando o Governo anunciou a decisão de restaurar os controlos das fronteiras durante o Euro 2004, toda a gente ficou finalmente a saber o que é o espaço de Schengen.

Vá lá, dêem a mão à palmatória...

Sem comentários: