26.6.04

O estado da Europa

Tanto o método usado para designar o novo Presidente da Comissão Europeia como a conclusão que o processo está em vias de ter são altamente reveladores do triste estado das instituições europeias.

Pois como é possível que a União Europeia se prepare para designar para o seu cargo político mais elevado alguém que, há apenas três semanas, sofreu no seu próprio país uma esmagadora derrota nas eleições para o Parlamento Europeu? Isto seria o equivalente a Jorge Sampaio resolver nomear Manuel Monteiro ou Garcia Pereira para formar governo em Portugal, e mostra a fraca conta em que o nosso voto é tido. Razão tiveram, ao que parece, os dois terços de eleitores que optaram por abster-se.

A segunda consideração que me vem à cabeça tem a ver com a qualidade política do indigitado, que não serve para nós mas serve para funções muito exigentes e complexas. Mais uma vez, seria como se alguém que não deu provas à frente de uma autarquia rural e periférica fosse escolhido para dirigir o governo do país.

Que ideias tem Durão Barroso para a Europa, que visão se lhe conhecesse, que pensamento original e inspirador alguma vez tornou público? - Mistério...

Parece que Chris Patten, um conservador independente e bem preparado, que múltiplas vezes exprimiu, contra o seu próprio partido, profundas convicções europeistas, que deu provas simultaneamente como scholar e homem de acção, designadamente na defesa das liberdades em Hong-Kong depois da transição para a soberania chinesas, parece que não servia porque era, enfim – inglês.

Mas então, porque não Aznar, que, para além de ser conservador, não só se encontra politicamente disponível como dispõe de um prestígio internacional muito superior ao de Durão Barroso?

A resposta – temo eu – é esta, tristemente esta: os grandes países europeus preferem um líder fraco, que poderão manobrar a seu bel-prazer. Arranjaram assim uma forma de desvalorizar o cargo de Presidente da Comissão no próprio momento em que, segundo tudo indicava, ele aumentaria de importância.

É este, em suma, o significado político deste extraordinário consenso gerado em torno de um político medíocre e marginal em relação à grande política europeia.

Mais uma razão para votarmos contra a Constituição Europeia no referendo do próximo ano? Não sei ainda: vou ter que pensar melhor nisso.

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