21.7.04

Estes cérebros que nos governam

Quando finalmente se tornou irrefutável a inexistência de armas de destruição massiva no Iraque, alguns «especialistas» explicaram-nos pressurosamente que esse era, afinal, um argumento ad usum delphini, exclusivamente concebido para impressionar as pobres crianças que nós somos.

E lamentaram que na devida altura não tivesse sido apresentada pela parelha Bush & Blair a verdadeira razão dos seus actos, reconhecendo embora, na sua infinita sabedoria, que talvez ela fosse demasiado complexa para os nossos espíritos.

E a razão, ao que parece, poderia ser assim resumida: Os dois principais focos de instabilidade no Médio Oriente são o conflito israelo-palestiniano e a fragilidade do poder da dinastia Saud na Arábia Saudita. O primeiro mantém os espíritos permanentemente inflamados e cria apoio popular para os grupos radicais terroristas. A segunda, ao pôr em perigo a principal fonte mundial de petróleo, condena paradoxalmente os países ocidentais a apoiarem um regime sem futuro.

Para desatar o nó górdio seria preciso, dada a impossibilidade prática de fazer algo de imediato em Israel ou na Arábia, atacar primeiro no Iraque, com o objectivo de alterar radicalmente a correlação de forças no Médio Oriente instaurando nas margens do Tigre e do Eufrates um regime amigo democrático, progressivo, respeitador da lei internacional e pró-ocidental, ainda por cima ele próprio um grande produtor de petróleo capaz de suprir por algum tempo alguma falha resultante da eventual ruina da casa de Saud.

Este seria, portanto, o master plan anti-terrorista que justificaria a invasão do Iraque. A partir daí, a guerra contra o terrorismo tornar-se-ia uma brincadeira de crianças.

E o que vemos nós afinal? O conflito no Iraque eterniza-se, com a insegurança nas ruas a inviabilizar na prática a organização de eleições, ao mesmo tempo que o país se torna numa das principais bases de operações da Al-Qaeda. O terrorismo directamente fomentado pela Al-Qaeda alastra na Arábia Saudita. A Autoridade Palestiniana, submetida a uma pressão crescente dos radicais terroristas, ameaça implodir e perder definitivamente o controlo sobre a situação. Em Israel, uma população massacrada por décadas de brutalidade cega perde a esperança na via negocial e deixa-se conduzir para um beco sem saída por Sharon.

Não há dúvida: qualquer problema, por mais complexo que se afigure, pode ser resolvido de forma simples, rápida, decidida – e errada.


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