3.11.04

The day after

John Kerry não é um personagem fascinante. Tão pouco é senhor de uma presença imponente.

É um homem cerebral, algo tímido, que não se sente à vontade em comícios e sessões de abraços e apertos de mãos. Habituou-se a cultivar um tom distante e patrício que, naturalmente, não gera empatia com o eleitor comum.

Mas fez uma campanha séria e corajosa, sem sombra de demagogia, em condições singularmente adversas. Enfrentou sem receio os preconceitos quotidianamente difundidos pelos media, ousando inclusivamente tomar posição em relação a questões tão sensíveis como a pena de morte, a posse de armas, o aborto ou o casamento de homossexuais.

Perdeu. Dadas as circunstâncias, acredito que dificilmente poderia ter sido de outro modo, apesar do que agora se diz terem sido os erros da sua campanha.

Mas é possível que, com a sua honrosa votação, e também com a intensa mobilização dos seus apoiantes, tenha conseguido estancar o avanço da vaga conservadora, cuja motivação extremista está hoje à vista de todos. A próxima administração Bush pode tentar ignorar meia América e prosseguir o caminho da anterior, dentro e fora do país, mas sabe agora que terá que contar com uma resistência determinada intra-muros.

Ganhar não é tudo, às vezes é quase nada. Há vitórias insignificantes, tal como há derrotas que intranquilizam os vencedores.

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