27.11.04

Os negócios do senhor Lopes

A Comissão Europeu reafirmou há dias, contra a vontade do governo português, a sua oposição à integração do negócio do gás natural na EDP, e isso, note-se, apesar de o Presidente da EDP ter ameaçado sentar-se à porta da Comissão até conseguir o seu sim.

É uma excelente notícia tanto para os consumidores como para a indústria portugueses, obrigados pela ausência de concorrência no sector da energia a pagar preços elevadíssimos que degradam o nível de vida da população e prejudicam a competitividade das empresas. Só me admiro que nem as organizações de defesa dos consumidores nem as associações industriais tenham até agora mexido uma palha num assunto de tão grande importância.

Poderemos estar então descansados?

Não. Espantosamente, o Secretário de Estado do Desenvolvimento Económico, um tal Manuel Lancastre, explicou no Diário Económico de 4ª feira, logo a seguir ao chumbo da Comissão, qual é o célebre plano alternativo congeminado pelo Ministro Álvaro Barreto. E qual é ele?

Cito o DE:

«A nova proposta deverá envolver, em vez da EDP, a Parpública, posicionando-se a Eni como segundo accionista. Isto implicaria a retirada da GDP (Gás de Portugal) da esfera da Galp e a procura de uma solução indirecta para que a EDP continuasse a ter uma palavra a dizer sobre o negócio do gás.

«Outra alternativa é a entrada da própria Galp Energia no capital da GDP com 51%. Os restantes 49% ficariam nas mãos da Eni, que manterá como já acontecia antes, o presidente da comissão executiva da GDP. A intervenção da EDP far-se-ía apenas a nível da holding Galp Energia, onde continuaria a participar enquanto accionista (actualmente detém 14,7%), e através da nomeação de homens de confiança para a comissão executiva da GDP.» (sublinhados meus)

Por outras palavras, o Governo prepara-se com todo o descaramento para respeitar a letra mas não o espírito da decisão da Comissão Europeu, contando talvez que uma cunha oportuna a Durão Barroso será suficiente para deixar passar este artifício manhoso.

Como se vê, a Comissão Europeu zela melhor pelos interesses dos portugueses do que o Governo que eles elegeram, o qual acha que a sua primeira obrigação é montar negócios rentáveis para os grupos económicos cujos representantes presentemente enxameiam os gabinetes ministeriais.

É também por isso que eu sou cada vez mais europeista.

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