21.1.05

Filomena, a centralizadora

Maria Filoménica Mónica proclama hoje no Público: «Política, filosófica e temperamentalmente, sou centralizadora.»

Mais ou menos como o Estaline, portanto.

E continua: «Num caso, todavia, o da lei eleitoral, a minha posição altera-se. Porque diante da urna, ninguém, melhor do que o próprio, sabe o que melhor lhe convém.»

Eis uma declaração sobre a qual poderia ser fundada toda uma metafísica. Ora vejamos. Em geral, há sempre alguém (no caso, Filomena Mónica) que sabe melhor do que o próprio o que melhor lhe convém, mas essa regra geral não se aplica no caso particular em que ele se encontra perante a urna.

O próprio não sabe o que melhor lhe convém perante um semáforo vermelho, perante a cama ou perante a prateleira do supermercado. Mas acende-se-lhe uma luz no cérebro tão logo ele se aproxima - imaginem só! - de uma urna.

De todos os objectos que há no mundo, a urna e só a urna desperta no homem instintos autenticamente racionais. Em tudo o resto ele é um menino indefeso que aguarda um guia para lhe ensinar a distinguir o que lhe convém do que deveria aborrecê-lo.

Filomena Mónica - bem o sabemos - não gasta muito a cabeça a pensar. Ela limita-se a verter para o papel as suas inclinações temperamentais - e o resto que se dane.

Assim, se bem estou lembrado, ela abominou o arranjo parlamentar que permitiu a Guterres fazer aprovar o OGE com o voto do deputado Campelo em troca do apoio ao queijo Limiano, mas agora finge não entender que, com deputados eleitos por círculos nominais, todas as votações do Orçamento imitarão esse episódio, com a agravante de que, então, cada deputado individual procurará puxar a brasa para o seu círculo.

Também eu aprovo a alteração da lei eleitoral. Mas reconheço, ao mesmo tempo, que essa reforma só faz sentido no contexto de um processo de descentralização generalizado, sem o qual a Assembleia da República tenderá a ficar paralizada sob a pressão da política de campanário.

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