25.3.05

Rex

Um imigrante ucraniano residente na Beira Alta foi dar com o seu patrão a agredir violentamente um cão com uma ferramenta de trabalho.

Interpôs-se para tentar proteger o bicho. O patrão empertigou-se, gritou-lhe que não se metesse naquilo. Engalfinharam-se. Na luta corpo a corpo, o emigrante levou a melhor, arrancou a ferramenta das mãos do adversário, bateu-lhe com ela na cabeça uma, duas, três vezes.

Quando finalmente conseguiu deter o braço, o outro estava estendido no chão numa poça de sangue. A vida abandonara-o.

Envolveu o cadáver num cobertor, montou numa bicicleta e lá foi pedalando, tem-te não caias, à procura de um sítio para escondê-lo, seguido de perto pelo cão. Não sei se já disse que se chamava Rex.

Chegado a um poço, atou-o a umas pedras e atirou-o lá para dentro. Dirigiu-se à aldeia, sempre acompanhado pelo cão. Meteu-se numa camioneta de passageiros, levando o bicho com ele.

Depois, creio que em Aveiro, comprou bilhete de comboio para ele e para o Rex e lá foram os dois rumo ao Porto. Do Porto voltaram a viajar de autocarro, agora para a Galiza, em seguida para Leão, errando sem rumo pela Espanha. Como todos os caminhos vão dar a Madrid, foi lá que finalmente concluiram a viagem.

Passados alguns dias foram capturados pela polícia cansados, esfomeados e desorientados. Como é evidente, o facto de o homem viajar sempre acompanhado pelo cão permitiu mais facilmente aos perseguidores seguirem-lhe o rasto.

O ucraniano foi extraditado para Portugal e está agora a ser julgado pelo crime de homicídio.

Leio esta história triste e singular, e estranho que o jornal omita o que sucedeu ao Rex após a prisão do seu dedicado companheiro.

Sim, que é afinal feito do Rex, esse feiticeiro de quatro patas cujo olhar suplicante deu cabo da vida de um homem?

Sem comentários: