24.6.05

Festa na Sé

«Parecia que a peste tinha assolado o Terreiro do Paço e os buliçosos arredores da Praça do Comércio e da Casa da Índia, porque até os vadios, os varredores das ruas e os pobres no último estado de decrepitude, haviam todos abalado para o local da festa! Nas ruas ermas apenas alguns cães farejavam os ossos, e não vi nas janelas senão ,eia dúzia de crianças enlambuzadas, berrando com toda a força por as terem deixado em casa.

«O murmúrio da multidão, apinhoada em volda da Sé Patriarcal, já se ouvia muito antes de lá chegarmos entre fileiras de soldados formados em linha de batalha. Quando dobrámos um recanto, ensombrado pelo alto edifício do seminário adjunto à Patriarcal, descobrimos as casas, as lojas e os palácios, tudo transformado em pavilhões, e armado de cima até abaixo de damasco vermelho, de tapeçarias, de colchas de cetim e de cobertas franjadas de luzente ouro. Julguei-me transportado ao acampamento do grão-mongol, tão pomposamente descrito por Bernier!»

William Beckford, Viagens a Portugal, 1787.

Sem comentários: