8.7.05

Amaral contra Bush

Luciano Amaral está zangado com George Bush, porque escutou William Kristol e ficou convencido de que o presidente americano se prepara para retirar do Iraque.

Amaral tem razão num ponto: tudo indica que Bush está de facto a tentar libertar-se do atoleiro em que se meteu. Não vejo, porém, onde está a admiração, porque há duzentos e tantos anos que os americanos se habituaram a partir a louça e sair sem pagar a conta. Uma vez terminada a exibição de força militar, está na hora de levantar a tenda e ir bombardear outro cometa.

Mas Amaral não concorda. É o fado dos doutrinários ficarem apegados a uma teima quando todos à sua volta já perceberam que ela não faz qualquer sentido. Para eles, quando as coisas dão para o torto, é a realidade que está errada, nunca as doutrinas.

Luciano Amaral escreve num jornal o que lhe vem à cabeça, George Bush tem a responsabilidade de dirigir os destinos da maior potência mundial. É essa a diferença, cuja relevância prática até este presidente é capaz de discernir.

Uma coisa é um sujeito pronunciar-se em abstracto sobre qualquer questão, com a ligeireza que decorre de não ter que assumir as consequências. Outra, bem diferente, é ordenar uma invasão que causou, segundo as melhores estimativas, 100 mil vítimas civis e não já sei quantas militares.

Nas escolas de gestão, é habitual chamar-se a atenção dos alunos para o facto de que resolver no papel um business case não é a mesma coisa que tomar graves decisões empresariais no dia a dia.

Uma decisão lógica e racional não é o mesmo que uma decisão existencial. Se Luciano Amaral procurar bem, um dia descobrirá que também há uns livros que explicam isso.

Só que a compreensão é algo diferente do entendimento. E também há uns livros que explicam isso.

A minha recomendação é que deixe de dar ouvidos ao Irving Kristol. Ele era trotskista, sabe?, uma seita cujo artigo de fé fundamental consistia na exportação da revolução. O engraçado é que ele nunca mudou de opinião. Limitou-se a encontrar algumas pessoas poderosas que lhe deram ouvidos.

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