24.7.05

Moral e terrorismo

A propósito de uma alegada necessidade de claridade moral para combater com sucesso o terrorismo, José Manuel Fernandes critica hoje Mário Soares por ele ter colocado a par o bombardeamento de Londres pela Alemanha nazi e o de Dresden pelos aliados.

Recorrendo ao estilo de argumentação a que o professor Espada nos habituou, Fernandes despacha o assunto explicando que «um recente livro» (que nem sequer se dá ao trabalho de nomear) prova que, ao contrário dos bombardeamentos de Hitler, os dos aliados «cumpriam um desígnio militar». Ora eu conheço alguns livros que demonstram que o bombardeamento de Dresden foi uma barbaridade para a qual é difícil encontrar paralelo na história militar.

A questão central, porém, não é essa. Para nos unirmos na luta contra o terrorismo apenas precisamos de uma plataforma sensata - como, por exemplo, aquela que é proposta no muito citado mas pouco lido Relatório da Comissão do 11 de Setembro - e não de uma cruzada moralista de contornos preocupantes, ainda por cima quando essa moral se revela afinal altamente tolerante das imoralidades dos nossos amigos, entre as quais se contam as mentiras que justificaram a invasão do Iraque, os bombardeamentos indiscrminados que vitimaram largas dezenas de milhar de civis inocentes, as torturas na prisão de Abu-Graib ou as prisões à margem de qualquer legislação nacional ou internacional em Guantanamo.

Cada vez estou mais persuadido de que essa ofensiva moralista é parte do problema, e não parte da solução.

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