10.7.05

No teatro

«Compunha-se o espectáculo de uma empolada tragédia em prosa, em três actos, intitulada Sesóstris, dois bailados, uma pastoral e uma farsa. As decorações não eram más, e os trajos eram pomposos.

«Um jovem de andar incerto, e olhar turvo, trajando o mais pesado luto, guinchou e roncou alternadamente o papel de uma princesa viúva. Outro adolescente, mal seguro nos seus sapatos de tacões altos, representava Sua Majestade egípcia, e garganteou duas árias com toda a nauseabunda suavidade de um aflautado falsete.

«Conquanto eu tivesse vontade de lhes esmurrar os ouvidos, por me terem tão grosseiramente aturdido os meus, o auditório foi de mui diversa opinião, e aplaudiu-os com o maior entusiasmo.

«No camarote do proscénio vi a afectada condessa de Pombeiro, que com os seus cabelos louros e a alvura da sua cútis fazia um primoroso contraste com a cor de ébano das duas criaditas pretas, que a ladeavam. O grande tom agora, na corte, é andar rodeado de favoritas africanas, tanto mais estimadas quanto mais hediondas, e enfeitá-las o mais ricamente possível. Foi a rainha que deu o exemplo, e na família real andam à competência em presentear dona Rosa, a negra beiçuda e desnarigada valida de Sua Majestade.»

William Backford: Viagens a Portugal, 1787.

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