31.8.05

Cavaco Bonaparte (a sequela)

Cavaco chegou a primeiro-ministro de Portugal em 1984 tirando partido do vazio de poder no PSD e no país. Os portugueses detestam intimamente sujeitos sérios e mentalmente disciplinados, pelo que só em desespero de causa se resignam a aceitá-los como governantes.

Volvidos vinte anos, há outra vez a sensação de que quem nos governa não sabe o que quer nem para onde ir. Nova oportunidade para Cavaco voltar a triunfar?

Cavaco Silva ainda não anunciou se é ou não candidato, mas uma insigne pléiade de comentadores - alguns muito experientes no métier de aconselhar príncipes - já teve a bondade de vir a público explicar-lhe o que deverá fazer.

O programa que o incitam a adoptar explica-se em duas palavras. Segundo eles, o regime está pronto a cair de podre. Aproveitando a renovada expectativa popular em relação aos poderes presidenciais suscitada pelo oportuno afastamento de Santana, é altura de promover uma candidatura cujo propósito confesso será pôr fim à presente balbúrdia e refundar a democracia.

O que se quer é eleger um Presidente-Rei suficientemente forte e determinado para organizar um putsch constitucional visando uma alteração da Constituição que, longe de se ficar pelos arranjinhos de circunstância a que já estamos habituados, abale nos seus mais fundos alicerces a actual estrutura do poder e a substitua por uma democracia musculada.

Mas é claro que, como estes temas constitucionais não mobilizam os cidadãos eleitores, a candidatura de Cavaco terá de escolher uma bandeira mais susceptível de entusiasmar o povo. Por exemplo: a luta contra a corrupção, um artigo que vende sempre bem.

Aceitará Cavaco Silva estes conselhos? E, se o fizer, conseguirá chegar a Belém com esse programa?

Algo me diz que os portugueses, vítimas nos anos recentes de um excesso de realidade, poderão optar antes pela fantasia.

Dilema moral

Quando o chamamos num certo tom de voz, o meu cão agita-se por segundos para trás e para diante, hesitando entre obedecer à intimação ou correr a esconder-se.

É a isto - suponho - que se chama livre arbítrio.

30.8.05

Ora agora blasfemo eu

O raciocínio deste post é divertido, embora não se me afigure particularmente perspicaz.

Em suma, diz que não devemos reformar o modo de actuar do Estado, dado que, no passado, o Estado tem funcionado mal. E suporta a sua argumentação enumerando um vasto rol de iniciativas alegadamente incompetentes por ele tomadas.

Agora imaginem que, face aos baixos níveis de desempenho das empresas portuguesas, alguém vinha dizer que, dado o seu miserável desempenho passado, não haveria razões para delas se esperar grande coisa no futuro? Mutatis mutandis, estaríamos perante o mesmo argumento.

É claro que estes doutrinários contraporão que as empresas funcionam mal porque o Estado as atrapalha, ao que outros doutrinários de sinal oposto responderão que o Estado funciona mal porque, com empresários deste quilate, governar o país torna-se muito complicado.

A puerilidade do pensamento destes rapazes nunca cessa de surpreender-me...

Ou então...

Tendo em conta:

1. Que o Estado não consegue cuidar devidamente das matas nacionais,

2. Que os proprietários não têm dinheiro para manter as suas florestas limpas,

3. Que os tribunais não dão seguimento atempado às queixas contra quem não cumpre a lei,

4. Que a GNR é incapaz de impedir os fogos de artifício,

5. Que não convém incomodar os emigrantes que querem conservar um pequeno pinhal como lembrança da terrinha,

6. Que os ecologistas só concordam que se urbanizem certos terrenos se as casas ficarem no meio da floresta,

7. Que o Instituto das Estradas não limpa de árvores os terrenos à volta das vias rodoviárias,

8. Que os municípios não cumprem a lei que fixa um espaço mínimo entre as povoações e a floresta

Tendo em conta tudo isso, digo eu, está-me a parecer que a forma mais eficiente de reordenar o território será deixar arder o que tem mesmo que arder.

Há só pequeno problema de pagar o justo pelo pecador.

Evidentemente, poder-se-ía considerar uma outra alternativa: encarar a ineficiência da prevenção e combate aos incêndios como um caso paradigmático da improdutividade do nosso aparelho de Estado e tomar a decisão de começar por aí a reforma da administração pública.

26.8.05



Manny Farber: Earth, Fire, Air, Water, 1984.

Uma medida irrealista e inaplicável

Na America faz-se assim. Mas o Pacheco Pereira diz que é uma medida irrealista e inaplicável, e o Pacheco Pereira é um homem sábio.

O que será mais barato: pôr a GNR a cobrar multas, ou pôr os bombeiros a apagar incêndios? Se fosse possível, o melhor seria pôr os próprios bombeiros a cobrar as multas...

25.8.05

Saberes em extinção

Como se faz um barco rabelo, em episódios, n' A Cidade Surpreendente.

Fascinante.


A propriedade não é sagrada

Tudo muito bem explicadinho aqui, com indesmentíveis bom senso e conhecimento de causa.

Só falta agora tirar as conclusões práticas.

24.8.05



Manny Farber: Ingenious Zeus, 2000.

Crime e castigo

O artigo de hoje da Maria João Seixas no Público de hoje - "Carta aberta a Helena Matos" - merece ser emoldurado.

Com a singular elegância que a caracteriza, o que a Maria João nos recorda é que uma sociedade que se respeita a si própria não pode admitir que uma qualquer arrivista possa impunentemente enxovalhar gente de bem.

Soares candidato

Embora nunca tenha sido muito dado a filosofias, Soares sabe que ele é ele mais a sua circunstância.

Não parte para nenhuma batalha apegado a posições fixas ou ideias pré-fabricadas. Bem pelo contrário, vai fazendo a sua estratégia enquanto anda. É, por assim dizer, um pensador peripatético.

O que faz dele um adversário temível é, antes de mais ,a sua imprevisibilidade. Norton de Matos estava à espera de uma coisa, e saíu-lhe outra. Salazar estava à espera de uma coisa, e saíu-lhe outra. Marcello estava à espera de uma coisa, e saíu-lhe outra. Cunhal estava à espera de uma coisa, e saíu-lhe outra. Eanes estava à espera de uma coisa, e saíu-lhe outra. Zenha estava à espera de uma coisa, e saíu-lhe outra. Cavaco estava à espera de uma coisa, e saíu-lhe outra.

Um dos problemas da candidatura de Cavaco, é que não faz a mínima ideia que adversário vai ter pela frente. Imagina talvez que lhe sairá ao caminho um Soares esquerdista e anti-americano. Fatal ingenuidade.

Quando era um simples comentador, Soares sabia que podia dizer "n'importe quoi", desde que contribuisse para construir a sua imagem para a posterioridade. Agora, precisamente porque tem a esquerda bem agarrada, lançará sem dúvida outros temas susceptíveis de captarem o eleitorado que lhe falta para ser eleito Presidente.

Os racionalistas imaginam que a política se faz com esquemas traçados a régua e esquadro no sossego dos cabinetes. Os intuitivos como Soares sabem que o caminho se faz caminhando.

O políticos experientes apegados aos métodos que no passado resultaram, correm o risco de tentar aplicá-los em circunstâncias inapropriadas. É o caso de Cavaco, um típico "one trick poney". Apesar da falta de rins, ele é um trinco razoável, só que hoje a táctica do "catenaccio" já caíu em desuso.

Soares, pelo contrário, é um polivalente. Tanto joga no meio-campo como à defesa ou ao ataque. Mas é claro que o seu ponto forte é distribuir jogo.

A volúpia do martírio



O Sporting não foi a Udine para ganhar, mas para perder com honra. Por isso, quando o árbitro, aos 20 minutos, assinalou o penalty mais disparatado deste ainda jovem século, o objectivo dos leões estava cumprido e a estratégia de vitimização confirmara a sua correcção.

A propósito: esse aí em cima é Dias da Cunha, não São Sebastião.

23.8.05

Utilizador pagador

Se Lisboa não quer pagar as auto-estradas do interior, porque não se recusa também Lisboa a pagar os custos do combate aos incêndios no resto do país? Pois não deveriam ser as populações directamente atingidas a suportá-los? Quem quer ter floresta que a pague.

Jihad e seitas anarquistas

O notável artigo Anarchists and Jihadists, publicado no último Economist, fornece muita matéria relevante para pensar os problemas do terrorismo contemporâneo. Comparem com o post que há pouco mais de um mês aqui escrevi intitulado O Terrorismo como epidemia.

Não posso deixar de meter também a minha colherada para recordar que o melhor livro de Conrad para entender os meandros psicológicos das seitas secretas revolucionárias não é, a meu ver, o tão frequentemente citado "The Secret Agent", mas antes o muito menos (e injustamente) conhecido "Under Western Eyes".

22.8.05

Os polícias são nossos amigos

Se é preciso polícia para um jogo de futebol, o clube tem que pagar. Se é preciso polícia para um concerto de rock, a organização tem que pagar. Se é preciso polícia para o aeroporto de Lisboa, a empresa que o gere tem que pagar.

Mas, afinal, haverá alguma coisa que a polícia faça à borla, ou seja, a título de serviço público?

Pelos vistos, os vencimentos pagos aos polícias servem para assegurar que eles vão todos os dias à esquadra - e que por lá se quedam. Mais do que isso, só com subsídios de risco e gratificações. Aqui há uns anos, o governo de Guterres determinou que essas gratificações deveriam pagar IRS. Desde então, os polícias amuaram.

No outro dia, alguém telefonou para a polícia à uma da manhã queixando-se de um desacato em plena rua a apenas duzentos metros da esquadra. Resposta do guarda de serviço: " Não temos nenhum carro-patrulha para enviar."

Preciosa informação. Para a próxima vez que esteja a planear assaltar um banco, telefono primeiro para a esquadra para inquirir se o caminho está livre.

Agora a sério: a mim parece-me muito mal que as esquadras não tenham carros-patrulha. Não que os polícias precisem deles para fazer patrulhas, mas sempre dão jeito para ir ao centro comercial comprar papel e lápis para fazer relatórios.

Um ex-Ministro da Administração Interna, hoje desterrado na Justiça, disse certa vez, irritado: "Esta não é a minha polícia!" Nem dele, nem de ninguém.

Um desejo absurdo de sofrer

Rossio, final de uma tarde de Agosto. Turistas melancólicos, possivelmente arrependidos de não terem ido antes passar férias à faixa de Gaza, deambulam entre mendigos dementes que exibem os seus aleijões.

Abundam os pontos de interesse para o visitante curioso: a estação do Rossio fechada sem explicações; a fonte do Rossio pichada com letras cirílicas; o entulho e o lixo acumulados nas ruas circundantes; as igrejas fechadas; as duas enormes barracas de lona ponteagudas, eventualmente recuperadas do cerco turco a Viena; o chulo que conduz um Mercedes descapotável exibindo os decibéis da sua aparelhagem.

Não me lembro de uma Lisboa tão imunda, desmazelada e caótica como esta de Carmona e Santana.

Vejam, não pensem

As declarações dos organizadores da manifestação que teve lugar junto à Embaixada da Alemanha em Lisboa, em memória de Rudolf Hess (!), sugerindo que "os políticos" devem todos "ser pendurados no Terreiro do Paço", tiveram pelo menos a vantagem de evidenciar a perspicácia dos adeptos da tese da equivalência entre extrema-esquerda e extrema-direita.

Um pouco de bom senso e de capacidade de observação podem poupar-nos a raciocínios muito complexos mas estúpidos.

21.8.05

Dilemas da globalização



Pessoalmente, não precisava que alguém me convencesse de que a globalização é genericamente uma boa coisa. Para quem tiver dúvidas, porém, este livro é excelente para ficar a saber porque não fazem sentido os argumentos mais correntes dos movimentos que se lhe opõem.

Mas Martin Wolf vai mais longe, discutindo pacientemente as posições a favor e contra a internacionalização da economia assente na liberalização dos mercados. E com tal seriedade o faz que, para falar com franqueza, me encontro agora mais reticente do que estava antes.

Eis algumas razões:

1. O teorema das vantagens comparativas de David Ricardo, base da defesa do comércio livre, não é uma verdadeira teoria científica, dado que não pode ser verificado directamente, tal como tampouco pode ser verificado directamente se a liberalização do comércio tem um impacto positivo sobre o crescimento. Suponho que Lakatos preferiria chamar-lhe um programa de investigação científica.

2. É algo perturbador verificar-se que a melhoria da situação dos países sub-desenvolvidos nos últimos 20 anos se restringe praticamente à China e à Índia, sendo que nenhum desses dois países se pode considerar exemplar do ponto de vista da liberalização económica, quer interna quer externa.

3. A liberalização dos movimentos dos capitais não tem praticamente nenhum argumento prático positivo a apresentar a seu favor.

4. Como o próprio Wolf admite, todos os países que até hoje conseguiram arrancar para níveis elevados de desenvolvimento (Japão, Coreia e Taiwan) recorreram em maior ou menor grau a políticas industriais activas, incluindo a protecção de indústrias nascentes.

5. A Organização Mundial de Comércio tem tido uma actuação frequentemente criticável na defesa dos países mais poderosos, designadamente na imposição da protecção indevida da propriedade intelectual. Wolf também concorda com esta opinião.

Nada disto permite questionar globalmente a bondade da liberalização do comércio para o mundo em geral e para os países mais pobres em geral. Apenas mostra que, como seria de esperar, há muitos problemas por resolver.

A questão essencial, para mim é outra. Wolf afirma que, no início do século XX, o mundo atingiu já níveis de internacionalização idênticos aos de hoje, mas depois ocorreu uma regressão geral desse processo entre o início da 1ª Guerra Mundial e o final da 2ª.

Porquê? Wolf atribui a responsabilidade exclusiva desse recuo à ascensão das ideologistas colectivistas, tais como o nacionalismo, o fascismo, o nazismo e o comunismo, e não lhes poupa críticas em diversos capítulos do livro.

Esta explicação não me parece satisfatória, pois falta saber por que razão tanta gente aderiu de boa vontade a essas ideologias se o mundo se encontrava no limiar de uma era de prosperidade e felicidade global. Wolf não tem nenhuma resposta para isto, pela simples razão de que concebe a globalização como um movimento puramente económico, sem se deter nas suas consequências sociais e políticas, e particularmente sem cuidar dos problemas do poder.

Por muito benéfica que se revele a prazo, a liberalização dos mercados acarreta por vezes enormes perturbações sociais. Populações inteiras perdem as suas terras ou os seus empregos, sendo obrigadas a deslocar-se para outras regiões ou outros países distantes. São arrancadas dos seus lares, implantadas em ambientes urbanos agressivos onde se sentem estranhas. Perdem as suas referências culturais, ideológicas e religiosas. Milhões de indivíduos sentem-se sós, desenraízados, angustiados e abandonados. Numa palavra: entregues à sua sorte.

Não admira, por isso, que tenham aderido com tanto entusiasmo a movimentos que lhes restuituiram o sentimento de pertença de que haviam sido privados.

É precisamente este o mesmo risco que corremos hoje. Ou criamos instituições supra-nacionais capazes de governar eficazmente o processo de globalização, ou entraremos de novo numa época de sangrentos conflitos à escala nacional e internacional.

FCPorto para consumo nacional

A globalização do futebol conduziu à concentração do poder em meia dúzia de clubes dos países europeus onde a dimensão do mercado publicitário produz maiores receitas televisivas.

Os clubes dos países de segunda linha do futebol europeu, incluindo Portugal, Holanda, Escócia, Bélgica, ex-Jugoslávia e Roménia, foram triturados por este processo, limitando-se hoje a fornecer jogadores talentosos aos clubes italianos, espanhóis, ingleses e alemães.

Há apenas uma excepção a esta regra: o FCPorto.

A consequência é que, quer se queira quer não, o FCPorto se situa hoje num plano de enorme superioridade em relação aos adversários nacionais, de tal sorte que o seu orçamento quase iguala o de todos os restantes clubes da Primeira Liga somados.

Isto tem múltiplas implicações. Para conservar a sua hegemonia nacional, o FCPorto necessita de se qualificar todos os anos para a Liga do Campeões, e a única forma de o garantir é sagrar-se campeão nacional. Mas esse objectivo é apenas um meio para atingir um outro fim: chegar todos os anos, pelo menos, aos quartos de final da principal prova europeia.

Nestas condições, ser campeão nacional é hoje uma grande glória para o Sporting e para o Benfica, mas não para o FCPorto.

Até ao ano passado, o FCPorto demonstrou pela positiva que o dinheiro não é tudo no futebol. Na vergonhosa época 2004-5 empenhou-se em demonstrar a mesma tese pela negativa, fazendo tábua rasa dos princípios que orientaram o clube nos últimos 30 anos. A absoluta falta de respeito pelos jogadores, pelos técnicos, pelos associados e pelo público foi a face visível de uma política de vendas e contratações que enriquececeu muita gente ao mesmo tempo que deixou a equipa de rastos.

Com Adriaanse, as coisas parecem ter regressado à normalidade. A equipa tem hoje um modelo de jogo, coisa que nunca se viu na última temporada, mas ainda não estou convencido de que esse modelo seja adequado às ambições do clube e ao seu actual plantel.

Na baliza, o FCPorto tem aqueles que são, de longe, os dois melhores guarda-redes a jogar em Portugal. Do meio-campo para a frente, conta com futebolistas suficientes para formar duas equipas campeãs nacionais. Não tem, todavia, um único defesa de nível internacional, pelo menos enquanto Nuno Valente permanecer de fora.

Em conclusão, o prognóstico é reservado. Para consumo nacional, deve bastar. Nas competições europeias, porém, a equipa arrisca-se a fazer muito fraca figura se o treinador não inventar uma fórmula mágica para a defesa, que não consistirá, certamente, em jogar com três centrais.

Pensamento crítico para quê?

Lamento muito dizer isto, mas as escolas fazem muito bem em não fomentar o espírito crítico, porque isso só serviria para prejudicar as inocentes criancinhas.

Por outras palavras, se as escolas não fomentam o espírito crítico, como bem nota o Pura Economia, é porque, bem vistas as coisas, ninguém deseja que o façam, porque a ninguém isso interessa.

A escola, meus amigos, deve preparar os jovens para a vida, não para o desemprego. E, como a nossa organização social assenta na obediência e no conformismo, não na investigação e no debate, é nessa disciplina que eles devem ser educados, assim se provando que o livre exame só contribui para confundir os espíritos sem em troca produzir nada de útil.

O espírito crítico é, em Portugal, um luxo para diletantes, ou coisa pior.




Alberto Burri: Imagens 2.

20.8.05

Dêem um dicionário aos moços

A palavra "aeronave" designa qualquer aparelho que se desloca no ar, incluindo tanto aviões como helicópteros ou balões.

Não era, por isso, necessário os super-excitados repórteres dos incêndios virem agora inventar a horrível expressão "meios aéreos".

Papoilas saltitantes

O título de campeão nacional conseguido pelo Benfica na última época é a prova cabal de que o país bateu no fundo.

No ano passado, as papoilas saltitantes foram afastadas da Liga dos Campeões pelo Anderlecht, a única equipa que não conseguiu um ponto sequer na fase de grupos. Este ano, para sobressalto do país, qualificaram-se directamente. Espera-se o pior.

Finda a pré-temporada, o Benfica vê-se forçado a jogar mesmo à bola contra adversários a sério, o que manifestamente não é a sua vocação. O clube dá-se melhor com uma existência meramente virtual nos media, anunciando contratações de grandes estrelas que nunca se concretizam, atacando e contra-atacando os adversários a plenos pulmões, gizando exibições, golos e títulos imaginários.

Se não fosse uma instituição, o Benfica teria que suar as estopinhas para evitar a despromoção. Como o é, continuará a poder alimentar entre os seus adeptos a ilusão de que é uma equipa de topo. Não sei se me faço entender.

P.S. - Dizem que o Benfica deve dinheiro a toda a gente, os invejosos! Não se esqueçam de que só a cláusula de rescisão do Mantorras, no valor de 18 milhões de contos, chegaria para construir vários estádios da Luz!

19.8.05

O fado do Sporting

O Sporting tornou-se-me bem mais simpático desde que adoptou esta postura de clube pobrezinho mas honrado. O problema é que ela não condiz com os pergaminhos do clube, muito menos com o look betinho de que não consegue libertar-se.

A pré-época mostrou que o Sporting voltará provavelmente a estar na corrida pelo título, com uma mão cheia de bons jogadores, um atraente jogo de conjunto e um treinador simpático sempre à beira de um ataque de nervos. Além disso, Peseiro viu-se livre de Rui Jorge e Pedro Barbosa, uma dupla de talentosos trouble-makers muito apreciados pelos adeptos.

Só não percebo porque é que ficou Sá Pinto, o terceiro membro da troika que fazia a vida negra ao técnico. E ainda menos percebo porque é que o treinador põe esse futebolista medíocre a jogar, condenando a equipa a entrar em campo em desvantagem numérica.

Mas o jogo contra a Udinese também sugeriu que, muito provavelmente, o Sporting voltará este ano a não ganhar nada, dado que, pura e simplesmente, carece de vocação para isso.

Há clubes que nasceram para falhar na hora H, lote em que se incluem também grandes emblemas como o Barcelona ou o Arsenal. No futebol como na vida, há uma coisa muito importante que se chama estofo. Ou se tem, ou não se tem.

X-rated

Isso. Na página do Frescos. No canto superior esquerdo. O que é que um avião está a fazer ao outro?

18.8.05

O menino da mamã e da avó

A não perder: Em Busca do Tempo Perdido contado pela Charlotte em episódios homeopáticos.

A palavra

A palavra chave no que respeita à prevenção dos fogos florestais é a palavra "nacionalização".

Estupidamente, é também uma palavra proibida.


Alberto Burri: Sacco IV, 1954.

Coitados...

Imaginem que aparecia na televisão um apresentador que não conseguia dizer os érres. O normal seria que os telespectadores se interrogassem:

"Quem terá sido o camelo que seleccionou um locutor que não sabe dizer os érres?"

Mas a verdade é que nós, portugueses, tendemos antes a reagir assim:

"Coitado, não só não sabe dizer os érres como ainda por cima calhou-lhe ser locutor..."

Este tipo de reacção é muito frequente. Eis mais alguns exemplos:

"Coitado, tinha o quintal cheio de lixo, e agora veio um incêndio e ardeu-lhe a casa..."

"Coitado, não sabe fazer contas, e a vida dele é ensinar matemática aos miúdos..."

"Coitado, foi treinado para combater incêndios de habitações, e agora tem que apagar fogos florestais..."

"Coitado, não pode ver sangue, e logo foi parar à Brigada de Trânsito da GNR..."

"Coitado, como se não lhe bastasse ser primeiro-ministro, ainda tinha que aturar todas aquelas namoradas..."

"Coitado, além de ser surdo ainda tem que fazer crítica musical..."

Somos, como se vê, muito compreensivos em relação à incompetência tanto própria como alheia. Por isso, não entendo toda esta excitação em torno da nomeação do Armando Vara para a administração da Caixa. Olhem se o puséssem antes a seleccionador nacional... Isso, sim, é que era mau! Coitado...

16.8.05



Chiho Aoshima: Magma spirit explodes, 2004.