11.9.05

A polícia ausente

Um dirigente do Sporting, cujo nome não retive, criticou a PSP por, ao contrário do que é costume, não ter enquadrado devidamente a claque do Benfica na sua caminhada para o Estádio do Sporting, o que teria contribuído para a ocorrência dos graves confrontos de ontem entre adeptos dos dois clubes relatados pela televisão.

A Comissária da PSP Anabela Alferes desmentiu o porta-voz do Sporting, afirmando que os adeptos do Benfica foram, como habitualmente, enquadrados pela polícia ao longo de todo o percurso, até à entrada do estádio.

Como as cenas de pancadaria se passaram praticamente debaixo da minha janela, posso testemunhar que ou a comissária Anabela Alferes foi mal informada, ou faltou à verdade. Esta foi a primeira vez, desde há muitos anos, que a PSP deixou a claque do Benfica avançar sem qualquer controlo visível sobre Alvalade, sendo que muitos dos participantes da marcha traziam nas suas mãos pedras e garrafas de cerveja. Quando eles se cruzaram com adeptos do Sporting que saíam da estação de Metro de Telheiras, as agressões começaram imediatamente.

Os polícias presente no local eram poucos e aqueles que rapidamente acorreram da esquadra vizinha estavam mal equipados. A actuação da polícia foi, como é hábito, desorganizada e improvisada, sendo manifesta a ausência de um plano de acção para reagir a circunstâncias similares.

Muito rapidamente, alguns agentes começaram a disparar (balas de borracha, ao que ouvi na televisão), assustando mais os pacíficos transeuntes do que os embriagados energúmenos que estavam ali para isso mesmo.

Um agente da PSP foi ferido na cabeça por uma pedrada. Fico a pensar como é possível mandar-se alguém para uma situação daquelas sem, pelo menos, um capacete. De passagem, notei como os estúpidos lancis de pedra que, desde o 2004, separam as faixas de rodagem, dificultam a movimentação das ambulâncias - tal como dificultarão a dos carros de bombeiros no dia em que forem necessários.

Qualquer pessoa que tenha assistido ao jogo pela televisão sabe que, apesar de, oficialmente, a polícia ter procedido a revistas à entrada do estádio, ocorreram múltiplas detonações durante o jogo.

Há poucas semanas escrevi aqui um post sobre a curiosa inacção da polícia face a pequenas e grandes alterações da ordem pública que afectam o nosso quotidiano. Os acontecimentos de ontem recordaram-me a mim - e, comigo, a muitos habitantes de Telheiras - que, para muitos efeitos práticos, é como se a PSP não existisse.

Acho que o Comando-Geral da PSP e o Ministro da Administração Interna (se o primeiro falhar), deveriam investigar a estranha abulia da polícia no dia de ontem e, em particular, as razões da alteração dos procedimentos utilizados nos últimos anos para controlar a claque do Benfica. O que é que isto significa?

Os telespectadores do jogo de ontem puderam todos ver um indivíduo a lançar um petardo para dentro do terreno. Acaso foi detido? Não ouvi nada sobre isso. Se o não foi, porque não pede a PSP através da tv ajuda para a sua identificação? Naturalmente, porque deu o assunto por arquivado.

Agora, vamos ao mais importante. Há coisa de uns vinte anos, ocorreram uma série de incidentes graves com hooligans em Inglaterra e noutros países, alguns dos quais provocaram mortes e ferimentos sérios. O Governo mobilizou-se, a polícia organizou-se, e o problema foi, no essencial, resolvido.

De que é que se está à espera para meter na ordem os bandos de delinquentes que se mascaram de claques de apoio? Naturalmente, este não é um problema exclusivamente policial, mas político.

Se os clubes patrocinam e financiam as claques, os seus dirigentes devem ser legalmente responsabilizados pelos desmandos que elas praticam. Se os jornais desportivos e os canais de televisão transmitem apelos à violência, devem também sofrer as consequências dos seus actos.

É assim tão difícil fazer-se qualquer coisa?

(Redigido este post, descobri estoutro sobre o mesmo assunto, que subscrevo por inteiro.)

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