27.10.05

O cavaquismo é o sistema em que vivemos

A partir de meados dos anos 80, com a adesão à UE, começou a chover dinheiro em Portugal.

O cavaquismo foi o sistema que organizou a contento a distribuição desses dinheiros, incluindo alguns que sobraram para caridade.

A sua ideia central, podemos hoje entendê-lo melhor à distância, era conseguir fazer entrar o país na modernidade sem pôr em causa a sua ancestral tacanhez.

Assim, a tradicional estrutura de poder económico-social, articulando sabiamente os pequenos e médios poderes locais com as grandes empresas encostadas à sombra do Estado, foi ciosamente reconstituída com alguns arranjos mínimos.

Seria de esperar que a abertura à concorrência externa, as reprivatizações, a expansão do investimento estrangeiro e o grande aumento da escolaridade tivessem conduzido a um crescimento espectacular da produtividade. Nada disso aconteceu.

Os grupos económicos concentraram a sua actividade em sectores protegidos da concorrência externa: finança, imobiliário, obras públicas, telecomunicações, grande retalho e auto-estradas, por exemplo. As PMEs receberam fortunas em subvenções provenientes da Europa para finalidades de interesse altamente duvidoso.

No essencial, muito pouco de essencial mudou. Muito em particular, os governos de Cavaco Silva foram de uma ineficácia total e absoluta nos domínios da justiça, da saúde e do ensino, já para não falar da reforma administrativa. Para complicar ainda mais as coisas, inventaram maravilhas como a progressão automática nas carreiras dos funcionários públicos e uma miríade de sub-sistemas especiais de privilégios que hoje estamos a descobrir.

Quando já estava tudo farto dos cavaquistas, veio o guterrismo que, mau grado as boas intenções iniciais, acabou por não ser mais que a continuação do cavaquismo por outros meios.

E é nisto que ainda hoje estamos, ou seja, no sistema instaurado sob a égide do professor Cavaco Silva. Talvez ele, que nos trouxe para cá, saiba como se sai daqui.

Acham?

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