24.2.06

Semana Desportiva ou Consolação da Filosofia

1. Eu gosto de quase todos os jogos de futebol, mas, neste caso, sinto-me tentado a dizer qualquer coisa do género: "o desafio esteve ao nível dos comentários do Gabriel Alves".

2. Em circunstâncias normais eu torceria pelo Liverpool, o único clube inglês suficientemente grande para não padecer dos maneirismos paroquiais que caracterizam o futebol daquelas terras. Mas os Reds de 3ª feira entretiveram-se tanto a jogar para o umbigo que se esqueceram de que havia duas balizas em campo.

3. Os três jogadores que construíram o golo do Benfica (Karagounis, Petit e Luisão) foram as únicas pessoas, 65 mil espectadores incluídos, que, talvez por sofrerem de insónias, ainda não tinham conseguido pregar olho àquela hora da noite. Daí a contingência do resultado.

4. O jornal que li no dia seguinte conseguiu contar sete remates do Benfica à baliza. Tem graça, eu só vi um.

5. Uma vitória do Barcelona é para mim sempre uma má notícia. Que querem? Eu embirro com os culés (a propósito, sabem a origem do nome?).

6. Quando uma equipa como o Chelsea, que faz da posse de bola o seu maior trunfo, chega ao fim do jogo com 35% de posse de bola, isso é sinal de que sofreu uma derrota esmagadora, uma derrota que fez mossa lá por dentro.

7. O Mourinho esteve desta vez muito mal, principalmente nos comentários no fim do jogo. O Del Horno foi expulso porque quis evitar continuar a ser tangueado pelo Misse, como até então sucedera ininterruptamente. Podemos chamar-lhe um cartão vermelho a pedido.

8. A expulsão também deu jeito ao Mourinho, que assim não terá que explicar como foi ingénuo ao ponto de pensar que, cercando o Ronaldinho e o Eto'o, o Barcelona ficaria desarmadilhado.

9. Se, como parece provável, o Chelsea for este ano eliminado pelo Barcelona, poder-se-á começar a pensar que, sendo verdade que o Porto nunca mais fez nada de jeito sem o Mourinho, não o é menos que o Mourinho também nunca mais fez nada de jeito sem o Porto. Os adeptos do Chelsea, rapidamente esquecidos do jejum de décadas na Liga, em breve murmurarão que, afinal, ao cabo de dois anos, o clube ainda nem chegou perto do título de campeão europeu.

10. Embora o meu coração tenha uma só cor - que no caso até são duas - olho para o jogo do próximo domingo com o distanciamento que resulta de não confiar nem um pouquinho no discernimento do holandês que este ano nos calhou em sorte. É a consolação da filosofia.

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