22.10.06

Marie Antoinette



A banda sonora de Marie Antoinette é um achado. Talvez por isso, fiquei com vontade de gostar do filme assim que vi o trailer.

Apresentar a Revolução Francesa na perspectiva da corte de Versalhes parecia uma boa ideia, mesmo que não inteiramente original. Infelizmente, é quando a Revolução chega que o filme se afunda completamente. (Ou seria melhor dizer: que ele se esboroa?)

Testemunhamos surpresa e angústia nas reacções do Rei e da Rainha, mas não vemos como elas evoluem à medida que os contornos dos acontecimentos revolucionários se vão precisando. Não ficamos a saber como eles e os que os rodeiam interpretam e reagem aos acontecimentos. Somos mantidos na completa ignorância das manobras políticas e militares em que o casal real se envolve, porventura para preservar a imagem de inocência de Maria Antonieta.

O fracasso do filme deve-se em parte, mas não unicamente, às suas imprecisões históricas. Poderia argumentar-se que isso pouco interessa, dado que o tema do filme é Maria Antonieta, não a Revolução Francesa; mas sucede que, sem os acontecimentos que conduziram à sua decapitação, ela não teria para nós o interesse que ainda hoje tem.

O estereótipo histórico retrata Maria Antonieta como uma mulher fútil, insensível e perversa. No intuito de humanizá-la, o filme , ao optar por representar a rainha como uma figura ingénua e despretensiosa em conflito com o convencionalismo da corte francesa, desloca-se para o pólo oposto. A troca de um simplismo por outro produz uma personagem sem espessura psicológica, que nem por diversa da habitual resulta mais verosímil.

Tirando isso, Sofia Coppola confirma que sabe filmar.

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