5.1.07

Não mexam no dinheiro dos partidários do "não"

O argumento a favor do "não" descambou recentemente do discutível mas respeitável plano da defesa da vida para um outro mais mesquinho de defesa do bolso do contribuinte.

Para além de os custos médios de um aborto apresentados por Maria José Nogueira Pinto serem completamente fantasiosos, faltaria ainda saber se, mesmo numa perspectiva de mero cálculo económico, não se revelarão ainda maiores os custos de tratamento de mulheres vítimas de abortos clandestinos feitos em precárias condições de higiene e segurança.

Mas é claro que, quando António Borges, com aquele seu arzinho de quem percebe de tudo menos do que interessa, explica aos alunos que na ideia dele todos somos, que, por cada 2,6 abortos há uma operação que deixa de se fazer, a gente entende que o que está em causa é outra coisa.

A insensibilidade revelada pelos que assim argumentam face aos sofrimentos provocados pelo aborto clandestino é, afinal, da mesma natureza que aquela que incita a populaça a recusar que o "seu dinheiro", o dinheiro "dos seus impostos", alimente, por exemplo, programas de rendimento mínimo garantido.

Admito que esta inflexão táctica renda votos aos partidários do não; mas parece-me que se trata de um argumento indigno pelo que revela de cego egoismo social e, afinal, de desprezo pela vida de pessoas que se encontram, de facto, vivas.

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