16.2.07

Deverá o voto ser pago?

Fará sentido, tendo em conta que a grande maioria dos eleitores não tem uma opinião relevante sobre o que quer que seja, permitir que o voto dessas pessoas contribua para hipotecar o nosso futuro colectivo?

O voto gratuito contribui para alimentar a ilusão de que a democracia não tem custos, quando, bem pelo contrário, ela é um bem de luxo. Primeiro, custa muito dinheiro organizar eleições democráticas. Segundo, o parlamento, os municípios e, sobretudo, o governo ficam caríssimos. Terceiro, e mais importante ainda, decisões erradas tomadas por votantes incompetentes podem arruinar o país.

Se o voto tem um custo, então deve ter um preço, e esse preço só pode resultar do livre jogo da oferta e da procura. A fixação de um preço desincentivaria o voto daqueles que não se encontram suficientemente motivados para o fazer, assegurando que só acorreriam às urnas aqueles cidadãos que simultaneamente: a) estão tão interessados em votar que até estão dispostos a pagar para poderem ter acesso a esse direito; b) estão suficientemente seguros das suas convicções para acharem que vale a pena exprimi-las.

Defendo que a introdução de uma taxa moderadora teria a utilidade de desincentivar a participação eleitoral daquelas pessoas que só votam por verem votar os outros ou que, pior ainda, o fazem em obediência a caciques de diversa índole que as pressionam a fazê-lo.

Gostaria de sublinhar que a principal vantagem desta reforma seria a melhoria da qualidade da democracia. Eleitores motivados e competentes dão mais garantias de que as votações conduzirão a decisões adequadas ao bem-estar da comunidade. As opiniões marginais, que no limite abrangem uma grande quantidade de tolices absolutas, ver-se-iam reduzidas à sua verdadeira expressão, em vez de contribuirem para poluir o debate político.

Dar a palavra a quem sabe - eis o grande benefício que resultaria da introdução do princípio do eleitor-pagador. É tempo de acabar com a utopia segundo a qual todos os cidadãos de um país, pelo simples facto de o serem, estão em condições de produzir alvitres dignos da consideração dos seus concidadãos.

Pensando bem no assunto, necessariamente somos levados a concluir que apenas os preconceitos do politicamente correcto nos impedem de ver que a forma mais racional de organizar eleições consiste em tratar de forma diferente o que é diferente em vez de permanecermos reféns de uma ultrapassada crença supersticiosa na igualdade essencial dos seres humanos entre si.

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