16.3.07

Português, demasiado português

António Costa deu-se ao trabalho de explicar por escrito a Vasco Pulido Valente que o Cartão Único é um mero porta-chaves que permite o acesso em separado a quatro bases de dados distintas.

"Ahá!", exclama Vasco, "apanhei-te! Se o Estado tem um duplicado do porta-chaves, nada o impede de o usar. E, como cada chave leva sempre a mais quatro, a vida qualquer cidadão fica aberta a qualquer polícia. E, pior ainda, ao governo."

Confuso? Não admira, visto que Vasco não tem as mínimas luzes sobre o assunto que escolheu debater.

Em primeiro lugar, a expressão "a vida de qualquer cidadão fica aberta" é manifestamente abusiva. Na sua idolatrada Inglaterra compra-se baratinho em qualquer fornecedor de bases de dados de marketing muito mais informação sobre qualquer cidadão (e, aposto, sobre o próprio Vasco) do que o Estado português alguma vez terá.

Em segundo lugar, como o próprio conceito de base de dados é um mistério para Vasco, ele não imagina que possa haver vários níveis de segurança, logo várias chaves, num mesmo sistema. Por exemplo, uma chave para aceder ao computador, outra para aceder à base de dados, outra para aceder a um determinado tipo de ficheiros, etc.

Em terceiro lugar, nada o autoriza a supor que, se um departamento do Estado tiver acesso a uma parte do sistema, necessariamente terá acesso a todos. Dizer: "o Estado tem um duplicado do porta-chaves" é o mesmo que dizer: "o Estado é careca e usa óculos" pelo simples facto de essa asserção ser verdadeira em relação ao Ministro da Administração Interna.

Em quarto lugar, a esta luz, a expressão "cada chave leva sempre a mais quatro" é em absoluto destituída de sentido.

Concluindo e resumindo, podemos constatar que, como qualquer bom português, Vasco acredita que a esperteza dispensa o conhecimento técnico. É só esse o problema.

PS - Quanto à questão do SISI, Vasco não tem nada de novo para dizer, embora gaste muitas linhas para dizê-lo. Limita-se, no fundo, a garantir: "António Costa não me convenceu". Mas alguém estaria à espera que alguém o convencesse de alguma coisa?

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