23.10.07

Blasfémia!

É curioso: nesta polémica em torno das declarações do helicoidal Dr. Watson, toda a gente parece concordar que a investigação científica não deve em caso algum ser condicionada por qualquer espécie de considerações externas.

Em nome de quê, pergunto eu?

Pode a liberdade de alguém legitimamente condicionar a liberdade de outrém? Reparem que nós vivemos hoje todos nesta santa crença de que, a haver diferenças de capacidade intelectual entre as raças, elas não serão nunca suficientes para pôr em causa a inocente crença na unidade essencial do género humano.

Vai daí, estribados nessa convicção, procedemos à atribuição direitos individuais e sociais em conformidade com esse princípio; incluindo, claro está, o direito a eleger ou ser-se eleito para qualquer cargo público ou privado.

Imaginemos agora por momentos que a investigação científica viesse a provar que estamos todos errados e que os nossos instintos igualitários nos fizeram cometer o erro de eliminar as distinções de raça como fundamento racional de atribuição de lugares na pirâmide social.

Que deveríamos fazer? Dar início a um processo, necessariamente violento, destinado a repor a ordem social prévia à emergência da equivocada (diriamos então) ideologia humanista? Estarão hoje as coisas tão mal ao ponto de justificarem uma tão abrupta inversão de marcha?

Volto então a perguntar: tem a investigação científica o direito de exigir a liberdade absoluta de movimentos que, hoje em dia, não concedemos a mais nenhuma esfera da acção humana? Que espécie de interdito é este que nos impede de colocar limites á ciência?

Imagino que estamos perante um pressuposto não explícito, ou seja o de que a ciência é o bem absoluto, seja pela excelência dos resultados que produz, seja pela desinterassada dedicação à verdade que promove.

A Ciência, numa palavra, é a Verdade e o Bem. Alguém - pergunto eu - de facto acredita nisso?

(PS - Corrijo a afirmação que faço no primeiro parágrafo depois de ler o artigo de opinião de hoje de José Vítor Malheiros no Público. Pelo menos uma pessoa questionou a liberdade absoluta da investigação científica.)

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