5.11.07

O proto-Rousseau

Filomena Mónica e os seus seguidores na cruzada contra o "eduquês" estão convencidos ter sido Rousseau o primeiro a recomendar que o ensino tomasse por ponto de partida e de chegada o aluno. No seu "From Dawn to Decadence", Jacques Barzun faz notar que o pioneiro dessa orientação foi o checo Coménio (Jan Komensky), o pai da moderna pedagogia que, neste particular, antecipou o genebrino em quase um século. Ora leiam:
"At this point anyone who has had much to do with education or has dipped into its history can guess what Comenius said: things, not words - hence the Sensualium of the textbook. Change school from a prison to a scholae ludus (play site), where curiosity is aroused and satisfied. Stop beatings. Reduce rote learning and engage the child's interest through music and games and through handling objects, through posing problems (the project method), stirring the imagination by dramatic accounts of the big world. The Orbis Pictus teaches objects and places, simultaneously with words, by means of pictures to be studied and talked about, a first hint of the audiovisual in education. Comenius would also teach a universal religion compatible with modern science, "Pansophia". All children should be schooled at state expense, starting very early in affectionate surroundings: nursery school for the four- to six-year olds. He added the substance of the 20C thought-cliche: education goes on as long as life."
Está aqui tudo o que os críticos retrógrados da escola moderna abominam: a ideia de que o ensino deve proporcionar prazer aos alunos; que a repressão não é o melhor método; que os jogos são uma boa maneira de aprender; que se aprende fazendo; que é tarefa dos professores estimular a imaginação e o debate; que a escola deve ser capaz de competir com os novos media; que o ensino deve preparar para a vida e deve continuar durante toda a vida.

Coménio viajou extensivamente por diversos principados alemães, pela Húngria, pela Lituânia, pela Polónia, pela Inglaterra e pela Suécia, e em todas essas paragens abriu escolas inspiradas nas suas ideias.

A Portugal não veio, claro está; mas, mesmo que tivesse vindo, os Jesuítas, antepassados dos professores Nuno Crato e Carlos Fiolhais, não lhe teriam permitido criar nenhum estabelecimento.

Sem comentários: