8.1.08

O clericalismo obliterado

Escreve António Figueira num brevíssimo comentário ao último livro de Vasco Pulido Valente:
A "plebe rural" (leia-se: o pequeno campesinato, sobretudo) levanta-se contra o invasor e junta à reivindicação patriótica a reivindicação social, anti-senhorial, facto facilitado pela miserável acomodação dos poderosos ao domínio estrangeiro. Mas a plebe é um corpo sem cabeça, pede quem a dirija. A burguesia de Lisboa não está disponível, o ocupante impede qualquer veleidade, e então é o clero quem, antes de mais, ocupa o que seria o seu lugar, impedindo que o levantamento mantenha o tom de insubordinação social que o caracterizou de início. A aliança entre a pequena burguesia urbana e a "plebe", ou seja, a receita do radicalismo que irá marcar todo o nosso século XIX, terá de esperar ainda alguns anos para demonstrar a sua relevância política e conseguir promover um programa "avançado". O autor desta tese bem pode ter sido Secretário de Estado e deputado pelo PSD, escreveu um livro que é um 18 de brumariozinho. E mais bem pensado e bem escrito, acho eu, do que tudo o resto que sobre a Guerra Peninsular recentemente se editou.
Campesinato patriótico... Curiosa tese, num Portugal de inícios de oitocentos no qual o algarvio não suspeitava sequer a existência do minhoto... Mas não será antes tudo isso uma forma de obliterar e branquear a memória do clericalismo?

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