18.3.08

O que é meu é meu, o que é teu é nosso

As intervenções dos diversos bancos centrais para acudirem a instituições financeiras incapazes de satisfazerem os seus cumprimentos implicam, na maior parte dos casos uma socialização das perdas. Para além disso, a ganância de alguns está a causar o sofrimento de muitos sob a forma de perda de emprego, rendimentos, propriedades e poupanças.

O argumento para justificar a chocante caridade com que são tratados os banqueiros prevaricadores é que, se os poderes públicos deixassem falir os bancos em apuros, as consequências seriam muito piores para todos nós. Poderiamos aceitá-lo, se, para além das acções de emergência, as autoridades fizessem alguma coisa para resolver o problema de fundo. Como não fazem, os mesmos espertos que arruinaram o sistema financeiro mundial aproveitam agora o crédito adicional que lhes foi concedido para especularem com petróleo e bens alimentares.

Alan Greenspan, um dos grandes responsáveis pelo caos actual, veio ontem recomendar confiança nos mercados livres. Diz ele que, se tivermos paciência para esperar, tudo voltará ao sítio. É caso para recordar, com Keynes, que a longo prazo estaremos todos mortos.

De modo que as perguntas que temos que fazer são estas:

1. Que esperam os governos e as autoridades monetárias para começarem a organizar os mecanismos de regulação financeira nacional e internacional que agora quase toda a gente com alguma responsabilidade entende necessária?

2. Que esperam os governos dos principais países para porem termo à instabilidade monetária que ameaça minar o comércio internacional?

3. Que esperam os governos para ilegalizarem os off-shores que facilitam a vida ao crime organizado, ao terrorismo, à fuga aos impostos em larga escala e à especulação financeira?

4. Finalmente, que esperam os governos para estabelecerem procedimentos de penalização dos executivos e das empresas que, abusando da boa-fé de investidores e depositantes, destruiram economias de uma vida inteira ao mesmo tempo que se reformam com bónus insultuosamente milionários?

Sem isso, é difícil acreditar que possa ser restaurada a confiança pública seja nos bancos seja nos seus putativos reguladores.

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