31.8.08

Lynyrd Skynyrd: Sweet Home Alabama

30.8.08

Michael Phelps com o Ministro da Economia dos EUA

29.8.08



Chen Hsing-wan: P70, 2000.

Se ele o diz...

Extracto do discurso de apoio a Obama ontem pronunciado por Bill Clinton:
Barack Obama is ready to be president of the United States.

As president, he will work for an America with more partners and fewer adversaries. He will rebuild our frayed alliances and revitalize the international institutions which helped to share the cost of the world's problems and to leverage the power of our influence.

He will put us back in the forefront of the world's fight against global warming and the fight to reduce nuclear, chemical and biological weapons.

He will continue and enhance our nation's commendable global leadership in an area in which I am deeply involved: the fight against AIDS, tuberculosis, and malaria, including -- including -- and this is very important -- a renewal of the battle against HIV and AIDS here at home.

A President Obama will choose diplomacy first and military force as a last resort.

But, in a world troubled by terror, by trafficking in weapons, drugs and people, by human rights abuses of the most awful kind, by other threats to our security, our interests, and our values, when he cannot convert adversaries into partners, he will stand up to them.

Barack Obama also will not allow the world's problems to obscure its opportunities.

Everywhere, in rich and poor countries alike, hard- working people need good jobs, secure, affordable health care, food and energy, quality education for their children and economically beneficial ways to fight global warming.

These challenges cry out for American ideas and American innovation. When Barack Obama unleashes them, America will save lives, win new allies, open new markets, and create wonderful new jobs for our own people.

Most important of all, Barack Obama knows that America cannot be strong abroad unless we are first strong at home.

People the world over have always been more impressed by the power of our example than by the example of our power.

Look at the example the Republicans have set.

In this decade, American workers have consistently given us rising productivity. That means, year after year, they work harder and produce more.

Now, what did they get in return? Declining wages, less than one-fourth as many new jobs as in the previous eight years, smaller health care and pension benefits, rising poverty, and the biggest increase in income inequality since the 1920s.

American families by the millions are struggling with soaring health care costs and declining coverage.

I will never forget the parents of children with autism and other serious conditions who told me on the campaign trail that they couldn't afford health care and couldn't qualify their children for Medicaid unless they quit work and starved or got a divorce.

Are these the family values the Republicans are so proud of?

What about the military families pushed to the breaking point by multiple, multiple deployments? What about the assault on science and the defense of torture? What about the war on unions and the unlimited favors for the well-connected?

And what about Katrina and cronyism?

My fellow Democrats, America can do better than that.

And Barack Obama will do better than that.

(APPLAUSE)

Wait a minute. But first...

AUDIENCE: Yes, we can! Yes, we can! Yes, we can! Yes, we can! Yes, we can! Yes, we can! Yes, we can! Yes, we can! Yes, we can!

Yes, he can, but, first, we have to elect him.
Um discurso assim comove as pedrinhas da calçada.

E se os EUA aderissem à União Europeia?

Sendo a população chinesa umas 4,5 vezes superior à dos EUA, basta o produto per capita chinês igualar 23% do americano para que, em termos absolutos, as duas economias tenham uma dimensão equivalente.

É claro que nessa situação - que poderá acontecer daqui a uns 15 anos - os chineses continuarão a ser incomparavelmente mais pobres do que os norte-americanos. Mas a China poderá, pela força bruta dos números, fazer frente aos EUA na ciência, na tecnologia, na cultura e, pior do que tudo isso, na área militar.

Esta eventualidade, ainda distante, traz já preocupados muitos americanos, entre eles Richard Rosecrance, professor na Universidade de Harvard, o qual assina no último número da revista "American Interest" um elucidativo artigo intitulado "Size Matters".

Estimulado pela recente proposta de uma Atlantikbruche (Ponte Atlântica) apresentada pela chanceler alemã Angela Merkel, Rosecrance propugna o desenvolvimento de um grande bloco euro-americano capaz de fazer frente às ambições geo-estratégicas da China. E conclui assim:
"Indeed, unless the Chinese economy implodes or globalization is stunted or reversed for some reason - both could happen, of course, but the odds lean against it - a Euro-American deal of unprecedented scale is the only way the United States can preserve its privileged position atop the global hierarchy. One day, most likely, it will happen."

Uma desgraça nunca vem só

Se Fannie Mae e Freddie Mac forem nacionalizados para evitar a sua bancarrota iminente, a dívida pública americana em percentagem do produto ultrapassará instantaneamente a da Itália.

Wikipedia

Ouvido hoje: "Como é que se chama aquela merda que se tira ao café para ele ficar descafeinado?"

28.8.08

Atrevidotes, estes europeus...

Nos últimos anos temos ouvido doutos comentadores opinarem com ar grave que o controlo da Rússia sobre as fontes ou vias de abastecimento do petróleo e do gás natural que a Europa consome colocam nas suas mãos uma perigosa arma de pressão política sobre o velho continente.

Todavia, os jornais de hoje informam que, afinal, é a União Europeia que se prepara para aplicar sanções à Rússia. Quem diria, hã?

O bandeirinha não viu a posição do logaritmo

O grande matemático brasileiro Elon Lages Lima acredita que a compreensão da lei do fora de jogo exige mais capacidade intelectual do que a das matemáticas que se aprendem nos ensinos básico e médio. Estou inclinado a concordar com ele.

O Provador de Venenos

A partir de agora, estarão disponíveis n'O Provador de Venenos os meus artigos publicados no Jornal de Negócios.

México na NATO?

Imaginemos que o México pedia para aderir à NATO. À NATO, digo bem: afinal, ao contrário da Geórgia e da Ucrânia, o México é um país do Atlântico Norte. Será que os EUA gostariam?

"Mas, afinal, de quem é que vocês querem ser protegidos, hã?", perguntariam os americanos.

"Precisamente...", responderiam os mexicanos.

27.8.08

É fazer as contas...

A estranheza essencial do mundo de hoje resume-se nisto: aquela que é ainda a maior potência económica planetária está endividada até ao miolo e o seu maior financiador individual é a China, um país que, mau-grado os progressos recentes, permanece uma nação pobre, com um PIB per capita equivalente a apenas 5% do dos EUA.

Reparem, porém, que a política monetária e orçamental adoptada na América não vai no sentido de aumentar a poupança e reduzir o endividamento, mas no de agravar os desequilíbrios existentes. Além disso, a fragilidade da economia americana é tal que, apesar de o dólar ter perdido cerca metade do seu valor contra o euro, a redução do défice externo foi relativamente pequena. Como irão os EUA continuar a financiar o seu esforço de guerra em várias frentes? Parece que os russos já se aperceberam da dificuldade.

Por outro lado, tampouco a China dá sinais de querer alterar a sua política económica, consistente na manutenção de um excedente comercial externo gigantesco e na aplicação no exterior dos excedentes gerados em aplicações ruinosas. Ou seja, o governo chinês parece menos preocupado em melhorar o nível de vida da sua população do que em acumular activos financeiros que poderá depois usar com finalidades políticas ainda pouco claras.

Neste momento, a percentagem do consumo no PIB chinês não ultrapassa os 40%, o que deve ser um mínimo mundial de todos os tempos, tanto mais injustificado quanto coincide com um período de prosperidade ímpar do país. Inversamente, o investimento absorve uma parcela cada vez maior do produto, sem que se perceba muito bem por quê e para quê.

Pode ser que a política económica chinesa conduza o país a médio prazo para um desastre de grandes proporções, tendo em conta a falta de racionalidade económica de tudo isto. Eu diria que há uma grande probabilidade de que isso venha a acontecer.

Entretanto, pela primeira vez desde há bastante tempo, o futuro da economia mundial encontra-se condicionado por estratégias cuja motivação é muito mais geo-política do que propriamente económica.

Se os dados essenciais do problema não se alterarem - América crescentemente endividada, China crescentemente credora da América - é muito possível que, a breve trecho, a China tenha os EUA na mão. Não acreditam? É fazer as contas...

Atrasado duas vezes

Se quisesse, de facto, criar sérios embaraços a Sócrates, o PSD teria escolhido Passos Coelho, não esse simulacro de coisa nenhuma que dá pelo nome de Ferreira Leite.

Irá decerto o partido entronizá-lo depois das legislativas de 2009, numa altura em que, a avaliar pela rápida mudança do clima ideológico internacional a que estamos a assistir (folheiem o Wall Street Journal para terem uma ideia), até o vago liberalismo agora apregoado pelo candidato soará decididamente obsoleto.

26.8.08

Fortes, da próxima vez que lançares o peso, faz pontaria ao Vicente Moura

24.8.08

Os meus votos para a Liga 08/09



Que jogadores, treinadores e comentadores aprendam a diferença entre o moral e a moral.

Embora aprender a usar correctamente uma palavrinha por ano?

Estado policial

Escreve Vasco Pulido Valente no Público de hoje: "Tirando o intermédio de Salazar, a penúria financeira do Estado fez sempre com que Portugal não pudesse ser suficientemente policiado."

Para entenderem como é judiciosa esta afirmação, convido-vos a olharem para o seguinte ranking internacional do número de polícias por mil habitantes construído em 2007 com as informações mais recentes de cada um deles (indico apenas os países europeus):

4º Itália - 5,55

7º Portugal - 4,75

10º Rep. Checa - 4,48

11º Eslováquia - 3,72

12º Lituânia - 3,54

16º Eslovénia - 3,14

17º Moldávia - 3,01

18º Alemanha - 2,91

19º Irlanda - 2,90

20º Hungria - 2,89

21º Espanha - 2,87

23º Estónia - 2,72

24º Polónia - 2,61

27º Noruega - 2,42

29º Islândia - 2,24

30º Roménia - 2,19

33º França - 2,05

34º Reino Unido - 2,049

35º Suíça - 1,93

36º Holanda - 1,92

37º Dinamarca - 1,92

44º Finlândia - 1,54

Média ponderada total - 3,00

Conclusão: o 7º país mais policiado do Mundo e 2º mais policiado da Europa não possui recursos financeiros para contratar mais polícias. Que lástima!

21.8.08

Medalha de ouro para este post

E, agora, a palavra ao 31 da Armada:
Vi ontem, na televisão, um jovem canoista envergonhado chamado Emanuel Silva, após falhar a qualificação para a final de canoagem (K1 1000 metros), agradecer aos portugueses todo o apoio que lhe foi dado, ao mesmo tempo que pedia desculpa por ter, eventualmente, «desiludido em alguma coisa». «Desiludido», dizia, com um rosto assustado. Comentava então alguém, e com razão, que nos começamos a parecer com a China -- sem as medalhas, naturalmente. A China que enxovalha os derrotados. Que gosta de vergar os vencidos.

Tudo isto fez-me pensar na quantidade de comentadores portugueses que, diariamente, assinalam as falhas dos nossos atletas nos jornais ou na blogosfera, acusando-os de falta de perseverança e responsabilidade, e apontando-lhes, inclusivamente, o facto de não terem a obsessão mental dos outros (leia-se, dos Phelps deste mundo).

Bem sei que somos, cada vez mais, o país dos self-made mens. No entanto, tanto quanto sei sobre muitos destes comentadores e os seus méritos caseiros, os mesmos nunca entraram em rankings internacionais, nunca competiram lá fora, nunca atingiram mínimos olímpicos, nem, possivelmente, possuem qualquer talento relevante que lhes permita, um dia, representar Portugal. Embora, claro está, não seja de todo improvável que o venham a fazer.

Por este mesmo motivo, dirijo-me a alguns destes meninos que, entre cunhas, lá conseguiram uma coluna de jornal. Desde logo para lhes perguntar se sabem o que é acordar às seis da manhã para ir treinar, nadar, saltar ou atirar bolas, dardos e outros pesos, para dar entrada, três ou quatro horas depois, num qualquer escritório ou repartição, matando-se a trabalhar até às 8 da noite ou coisa que o valha, daí voltando para o sítio onde treinam, nadam, saltam, atiram bolas, dardos e outros pesos. Se sabem o que é ser-se amador durante metade do dia, com contas para pagar e credores que exigem algo mais do que a honra que aqueles meninos associam à bandeira nacional. Ou se têm consciência, por exemplo, da quantidade de atletas que, até há bem pouco tempo, pagava do seu próprio bolso os sapatos de corrida (dois pares por semana, segundo me constou), algo que não sucede com os atletas etíopes ou quenianos (países que apostam em poucas modalidades onde são tradicionalmente fortes) ou com atletas da ex-URSS (e que por muitos e bons anos vão continuar a colher os frutos da cultura e estruturas desportivas do mundo soviético).

E quanto aos atletas profissionais: será que Naide Gomes, recordista nacional, campeã do mundo e da Europa de salto em comprimento, precisa de obsessão? Depois de tudo o que ganhou, será que lhe falta dedicação? Ou será que esta, como outras atletas profissionais, tem incomparavelmente mais qualidades do que a quase totalidade dos portugueses junta, e sobretudo, mais talento do que o bando de falhados que decidiu escrutinar a prestação olímpica da mesma? Será difícil de perceber que, nas últimas duas semanas, os nossos atletas, mesmos os atletas profissionais, passaram a carregar nos ombros a salvação de uma reputação olímpica que não existe? Será tão difícil de ver que, quando partiu para um terceiro salto na meia-final de salto em comprimento, Naide Gomes devia estar a pensar nela própria: em conseguir a marca que todo o mundo, menos Portugal, sabe que é a dela; a marca que lhe deu os títulos que tem, que fez dela a mais séria candidata ao título olímpico da modalidade?

Infelizmente, suspeito não ter sido nisto que Naide Gomes pensou. Pelo contrário, diria que, enquanto corria para o terceiro salto, esmagada pela responsabilidade de um país que cada vez mais se parece com uma agremiação de pretensiosos sem pinga de solidariedade pelo próximo, Naide Gomes pensava no mau que seria falhar, no quanto seria trucidada pela critica, nos comentadores, nos gordos anafados e idiotas, nos portugueses mundialmente anónimos mas pejados de vaidade que por cá andam e ficam, sempre, todos os dias, gozando com os que vão e ousam voltar, que pisam, criticam, exigem e impõem. É muito em que pensar. E foi por isso que Naide Gomes falhou. Como se esperava, aliás. Como sucederia com a generalidade dos atletas norte-americanos ou jamaicanos em idêntica situação.

Cheira-me, enfim, que nada disto foi pensado por estes comentadores, pagos para falarem sobre tudo quando pouco percebem sobre nada. Há quem chame a este fenómeno «opinião». Outros limitam-se a um foclórico «entretenimento». Eu chamo-lhe hipocrisia. E proponho-lhes, para fins propedêuticos, que os autores se dediquem a um desporto: caça. Fazendo de caça, naturalmente. Eu largo os cães.

Vêm, depois, as justificações dos meninos comentadores. Afinal, o que os move, é ambição. Querem ser mais, querem ser melhores. Estão frustrados com o seu tempo. Com os feitos da nação. São a geração que quer mais e melhor, e que se segue à geração que queria mais e melhor que, por seu turno, veio substituir a geração que queria mais e melhor. A geração que descobriu que as exigências de mais e melhor apenas se aplicam aos que efectivamente tentam mais e melhor, e que tudo o mais -- o Estado, o mercado, o PSI 20, os funcionários públicos, os impostos -- são uma realidade separada, algo que não merece, neste âmbito, ser objecto das suas considerações habitualmente inúteis.

E é a isto que um Gustavo Lima se sujeita. Afinal, faltou-lhe obsessão. Se ele tivesse obsessão, perceberia que, contrariamente ao que diz, não é inconcebível dedicar a vida à vela e a Portugal. Mesmo sabendo que mil euros mensais são uma miséria para quem tem poucos anos de carreira pela frente; que nada deve à bandeira dos que o insultam; que o seu esforço levou ao sacrifício de tempo e oportunidades irrecuperáveis.

A geração dos meninos comentadores tem língua afiada. Mas esqueceu-se do futebol. O desporto da equipa de milhões, paga, patrocinada, motivada a peso de ouro, que nem sequer foi aos Jogos Olímpicos. E esqueceu-se do hóquei, aquela modalidade que nós portugueses gostamos muito -- embora não tenha dignidade olímpica -- e que entretanto definha sem títulos recentes. Esqueceu-se, ainda, do próprio râguebi, o desporto de heróis trabalhadores que geraram três derrotas num tempo verdadeiramente olímpico. E esqueceu-se porque, num português, somente a maldade é actual.

Os factos são simples: Portugal não é um país de medalhas olímpicas porque tal implicaria ser um país que não somos nem temos condições para ser. Pior do que isto é constatar que jamais o seremos. Com efeito, se há 4 anos, os miúdos, entusiasmados pelos jogos, procuravam em Setembro inscrever-se nas modalidades desportivas que mais os atraíam -- desmobilizando antes de Outubro, pois elas não existiam nas escolas onde os portugueses fingem que estudam -- no futuro nem isso veremos. Afinal, depois de desancarmos os atletas que temos, quem, no seu perfeito juízo, se atreve a representar este país, sob uma bandeira que mais não faz que os humilhar?

Resta-me, português anónimo que sou, deixar um pedido de desculpas aos atletas portugueses. Aos que foram aos jogos olímpicos e aos incautos que, no futuro, tentarão repetir a gracinha. E constatar que, salvo estes atletas, gente que ainda perde tempo com a nossa bandeira, nós somos uma merda. Como país, como pessoas, como portugueses. Uma merda. E isto é tudo o que eu tenho a dizer sobre o assunto.

Jacinto Bettencourt

Bem pensado

Kishore Mahbubani, no Financial Times de hoje, um jornal que, pelos padrões da nossa imprensa, se posiciona muito à esquerda:
Russia is not even close to becoming the primary contradiction the west faces. The real strategic choice is whether its primary challenge comes from the Islamic world or China.(...) Western thinkers must decide where the real long-term challenge is. If it is the Islamic world, the US should stop intruding into Russia’s geopolitical space and work out a long-term engagement with China. If it is China, the US must win over Russia and the Islamic world and resolve the Israel-Palestine issue.(...)

The biggest paradox facing the west is that it is at last possible to create a safer world order. The number of countries wanting to become “responsible stakeholders” has never been higher. Most, including China and India, want to work with the US and the west. But the absence of a long-term coherent western strategy towards the world and the inability to make geopolitical compromises are the biggest obstacles to a stable world order. Western leaders say the world is becoming a more dangerous place, yet few admit that their flawed thinking is bringing this about. Georgia illustrates the results of a lack of strategic thinking.

Não há bronzeados grátis

Não pára de crescer desde meados do século XX a multidão de adoradores do Sol que, chegado o Verão, acorrem às praias em busca de luz, energia e inspiração. A concentração das populações nas cidades estimula o culto pela Natureza e, em particular, pela praia, representação palpável do paraíso terrestre, onde a humanidade, sem vestuário nem preocupações, regressa por umas semanas ao estado primitivo.

À utopia do modo de vida natural acrescenta-se a da sociedade sem classes para tornar ainda mais populares as férias na praia. A nudez é inerentemente democrática: despindo os banhistas de sinais exteriores de status, neutraliza os preconceitos sociais e promove a igualdade entre os homens.

Na prática, é claro, não é bem assim. Sendo incompleta a nudez, um fato de banho de marca distingue-se doutro comprado no Continente; e as senhoras das classes superiores fazem gala de exibir na praia colares, pulseiras e demais quinquilharia. Depois, qualquer praia tem, pelo menos dois territórios de classe bem demarcados: os toldos para um lado, os guarda-sóis para o outro. Finalmente, praias não acessíveis através dos transportes públicos adquirem, só por isso, outro pedigree.

Ainda assim, a praia permanece um espaço razoavelmente imune às transformações económico-sociais do nosso mundo. Hoje, como há cinquenta anos, uma praia consiste de mar, areia, toldos, nadadores salva-vidas, vendedores de gelados e bares de praia. Dificilmente se conceberá coisa mais obsoleta.

Como é possível admitir-se em pleno século XXI – pergunto eu – que milhares e milhares de consumidores permaneçam esticados ao sol durante dias e semanas a fio sem consumirem praticamente nada? É assim que se pensa desenvolver o país?

É certo que alguns autarcas mais azougados vêm promovendo programas de hidroginástica logo pela manhã, seguidos de chill out sessions, fresbee, speedminton e body pump ao longo do dia. Tudo devidamente enquadrado por batidas musicais difundidas para todo o areal através de poderosas colunas de som. Mas tais iniciativas são claramente insuficientes para promoverem a inadiável rentabilização da orla costeira.

Se, em muitas praias, as famílias se disponibilizam a pagar o equivalente à renda de um T0 em Lisboa pelo aluguer mensal de um simples toldo, imagine-se a receita que poderia resultar da prestação de um verdadeiro serviço integrado aos veraneantes.

Não entendo, desde logo, por que não são substituidas as tradicionais cadeiras de praia por sofás ou camas mais confortáveis. Pergunto-me, além disso, por que é que os toldos não têm acesso a cerveja e refrigerantes canalizados, ou por que não se encontram equipados com televisão por cabo e acesso à internet. E, já agora, não faria sentido facilitar a circulação das pessoas instalando escadas e tapetes rolantes que evitem penosas caminhadas pelos areais? Por que há-de a revolução tecnológica deter-se à entrada das praias?

Na praia que idealizo, uma plataforma de intranet permitiria aos consumidores encomendarem directamente massagens, gelados, bolas de berlim e outros produtos e serviços. O registo numa base de dados dos pedidos dos clientes anteciparia inclusive os seus desejos futuros. Cada consumidor disporia, bem entendido, do acompanhamento personalizado de um account manager, disponível 24 horas por dia, através do qual canalizaria os seus pedidos, sugestões e reclamações.

Esta brevíssima antevisão da praia do futuro torna evidente como a praia de hoje permanece uma espécie de enclave cubano nas nossas sociedades avançadas, um espaço de absurda nostalgia pré-moderna economicamente inviável e condenado à extinção.

A praia tem – queiramos ou não - um custo de oportunidade. Se não fosse ocupada por banhistas ociosos, seria possível construir nela casas sobre as dunas, usá-la para exercícios militares ou rasgar amplas estradas marginais.

É tempo de trocarmos definitivamente o socialismo utópico pelo capitalismo científico.

(Artigo publicado no Jornal de Negócios de 20.8.08)

19.8.08

Novo logo do Partido Conservador Britânico


Vai bem com a cara do gajo.

18.8.08

Sem palavras



Fonte: FiveThirtyEight.

16.8.08

Verdade e propaganda

Desconfio que, nos próximos tempos, estes argumentos vão ser muito ouvidos na Fox TV.

Por incrível que pareça, às vezes, até a própria verdade pode ser útil à propaganda.

15.8.08

Falsa surpresa

Disse-se em Maio (erradamente) que o desempenho da economia portuguesa fora no 1º trimestre muito pior que o da União Europeia.

Diz-se agora (também erradamente) que no 2º trimestre foi claramente superior.

As estimativas portuguesas trimestrais do produto não são comparáveis às dos principais países europeus, porque, ao contrário das deles, não são dessazonalizadas nem corrigidas dos dias úteis. Logo, foram prejudicadas no 1º trimestre e beneficiadas no 2º por a Páscoa ter este ano calhado em Março em vez de Abril.

Surpresa? Só para quem não sabe do que fala.

A potência discreta

Quem conquistou, até ao momento, mais medalhas olímpicas: China ou Estados Unidos?

Tomando como bons os dados publicados no Diário de Notícias de hoje, a União Europeia vai à frente com 77 medalhas, mais do dobro das conseguidas pela China (35) ou pelos EUA (34).

Os nacionalismos agressivos de hoje - EUA, China e Rússia - esforçam-se a todo o custo por transformar os Jogos Olímpicos numa montra da sua suposta superioridade sobre os restantes povos do mundo. A União Europeia, felizmente, alheia-se dessa competição.

6.8.08

A obra financeira do Partido Republicano



(Este cartoon foi-me recomendado pelo leitor Sérgio Gouveia.)

1.8.08

Um rapaz de Lisboa

Soube de fonte limpa que, esta semana, o Expresso levou António Costa a passear por Lisboa.

Com um bocado de sorte, pode ser que lhe tenham mostrado, entre outras coisas, que não há faixas de rodagem na 2ª Circular, que as grelhas que tapam os escoadores de água no passeio da minha rua desapareceram há dois anos e que, todos os dias, a distribuição dos jornais gratuitos deixa atrás de si um tapete de lixo nos acessos às estações de Metro.

Com muita sorte, talvez algum transeunte lhe tenha feito ver que, por este caminho, vai ser muito difícil conseguir a reeleição.

Se não tem tempo livre para andar por aí, nem conhece alguém que ande, poderia ao menos organizar uns focus groups para se manter a par do que se passa em Lisboa.

PSD vislumbra Cavaco ao longe