27.8.08

É fazer as contas...

A estranheza essencial do mundo de hoje resume-se nisto: aquela que é ainda a maior potência económica planetária está endividada até ao miolo e o seu maior financiador individual é a China, um país que, mau-grado os progressos recentes, permanece uma nação pobre, com um PIB per capita equivalente a apenas 5% do dos EUA.

Reparem, porém, que a política monetária e orçamental adoptada na América não vai no sentido de aumentar a poupança e reduzir o endividamento, mas no de agravar os desequilíbrios existentes. Além disso, a fragilidade da economia americana é tal que, apesar de o dólar ter perdido cerca metade do seu valor contra o euro, a redução do défice externo foi relativamente pequena. Como irão os EUA continuar a financiar o seu esforço de guerra em várias frentes? Parece que os russos já se aperceberam da dificuldade.

Por outro lado, tampouco a China dá sinais de querer alterar a sua política económica, consistente na manutenção de um excedente comercial externo gigantesco e na aplicação no exterior dos excedentes gerados em aplicações ruinosas. Ou seja, o governo chinês parece menos preocupado em melhorar o nível de vida da sua população do que em acumular activos financeiros que poderá depois usar com finalidades políticas ainda pouco claras.

Neste momento, a percentagem do consumo no PIB chinês não ultrapassa os 40%, o que deve ser um mínimo mundial de todos os tempos, tanto mais injustificado quanto coincide com um período de prosperidade ímpar do país. Inversamente, o investimento absorve uma parcela cada vez maior do produto, sem que se perceba muito bem por quê e para quê.

Pode ser que a política económica chinesa conduza o país a médio prazo para um desastre de grandes proporções, tendo em conta a falta de racionalidade económica de tudo isto. Eu diria que há uma grande probabilidade de que isso venha a acontecer.

Entretanto, pela primeira vez desde há bastante tempo, o futuro da economia mundial encontra-se condicionado por estratégias cuja motivação é muito mais geo-política do que propriamente económica.

Se os dados essenciais do problema não se alterarem - América crescentemente endividada, China crescentemente credora da América - é muito possível que, a breve trecho, a China tenha os EUA na mão. Não acreditam? É fazer as contas...

1 comentário:

Orlando disse...

... e não tem já?