28.6.09

Ignorância generalizada

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O Paul Krugman anda há meses a batalhar nisto:
"Even in macroeconomics, you could build a career without ever understanding what Keynes and Hicks were driving at — and if you’re under a certain age, perhaps without even ever having heard about it. Arguments like “deficits drive up interest rates and that’s contractionary” basically have the feel of someone who doesn’t have any sense of how the pieces fit together — probably because they don’t."
Eis algo que, por exemplo, os subscritores do Manifesto dos 28 ignoram, já para não falar da multidão dos comentadores e jornalistas que se permitem debitar palpites sobre o assunto.

Não, o acréscimo do investimento público não conduz ao aumento da taxa de juro numa situação como a actual, em que a poupança das empresas e das famílias cresceu bruscamente como reacção à percepção de risco acrescido dos agentes económicos.
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2 comentários:

Rui Fonseca disse...

"Uma taxa de desemprego de 10% é o sinal de uma economia falhada, que custa a Portugal cerca de 21 mil milhões de euros por ano" – (in doc. transcrito abaixo)

Tenho uma dúvida nestas contas: Se a 10% de desemprego correspondem 21mil milhões de euros, isso significa que a 100% (emprego total) corresponderiam 210 mil milhões. Não é demais?

Segundo o INE o PIB de 2008 terá andado pelos 166 mil milhões.

E estamos a falar de emprego total ou 0% de desemprego.

Ou estou errado?

Tiago Tavares disse...

O manifesto dos 28 é um texto que se foca claramente no longo-prazo, e nesse quadro a discussão da evolução das taxas de juro e de efeitos de crowding-out deixa de fazer sentido algum. Ainda assim se tivesse lido o manifesto dos 28 tinha reparado que há um ponto em que se faz a defesa de que um pacote de investimento público pode ter um impacto positivo na procura agregada - o argumento desse manifesto (tal como no outro manifesto) é somente que esse investimento não tem de ser realizado obrigatoriamente em TGV, aeroportos, ou autoestradas. No entanto vejo sistematicamente uma insistência (como a sua) em confundir o longo-prazo com o curto-prazo ou em desconsiderar completamente o longo-prazo como se só existisse curto-prazo. E isto é engraçado para senhores que se julgam muito "heterodoxos" já que esta sempre foi a ideia do Prescott - o famoso economista da linha nova clássica e com a responsabilidade de ter enterrado de vez as teorias da síntese neo-Keynesiana (pelo menos da academia).

Mas nem sei para é que estou a dizer isto já que me parece que a sua ciência económica se encontra um pouco enferrujada. Sobre a frase do Krugman e o seu comentário:
a) não precisa de uma armadilha de liquidez para ter um impacto nulo do investimento público nas taxas de juro. Basta apenas ter uma economia aberta pequena em regimes de câmbios fixos - as taxas de juro são determinadas internacionalmente. E esta é precisamente a situação de Portugal.
b)e a frase do Krugman nada tem a ver com essa armadilha de liquidez. No âmbito da teoria Keynesiana a expansão da despesa pública terá, em condições muito gerais, um impacto expansionista na procura e isso inclui situações em que as taxas de juro sobem ou não (ou por jargão se a curva LM estiver positivamente inclinada ou horizontal). No âmbito teórico dessa teoria, impactos concentracionários dos défices só ocorrerão se LM for positivamente inclinada (algo que pode ser um desafio de encontrar justificação económica) ou se ocorrerem efeitos de 2ª ordem importantes (o qual eu dei um exemplo aqui). Mas estes já são argumentos mais difíceis de defender. E foi por isso que os 28 economistas também defenderam o investimento público para conter parte da progressão do desemprego no âmbito da actual crise. E isto, como é óbvio, sem referência a esse impacto nas taxas de juro (ver (a)).