11.6.09

Novidades na frente oriental

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A Letónia não integra a zona euro. A Suécia também não. Por que interveio então ontem o Banco Central Europeu (BCE) em apoio do Banco Central Sueco para sanear a situação financeira na Letónia?

A Letónia mergulhou há meses numa crise financeira semelhante àquela que há nove anos afligiu a Argentina: o produto deverá cair 10% este ano, o défice das contas externas disparou (em parte devido à indexação do lat ao euro) e o afluxo de capitais estrangeiros que sustentou a expansão nos anos recentes deteve-se abruptamente.

Acontece que os bancos letões são hoje meras sucursais de alguns bancos suecos, pelo que o afundamento do sistema financeiro da Letónia propagar-se-ia instantaneamente à Suécia e, daí, a alguns países centrais da zona euro. Por via desse receio, nos últimos dias a cotação bolsista dos bancos suecos baixou preocupantemente e a coroa sueca desvalorizou-se.

Que significado tem esta intervenção inusitada e forçosamente controversa do BCE?

Para o compreender, note-se que, caso ela não tivesse ocorrido, a Letónia seria forçada a desvalorizar imediatamente a moeda e a aumentar a taxa de juro. Isto seria altamente penalizador para a população, desde logo porque a maioria dos créditos à habitação se encontram titulados em moeda estrangeira, mas teria pelo menos o mérito de estimular as exportações e travar as importações.

A intervenção do BCE por interposto Banco Central da Suécia implica um apoio directo ao sistema financeiro sueco e indirecto ao da Letónia, visando dissipar os receios de que ele possa colapsar, desse modo modo travando a especulação contra a moeda local e evitando a sua desvalorização. A má notícia é que o ónus do saneamento financeiro do país recairá inteiramente sobre a redução do défice das contas públicas, o que não poderá deixar de ter graves consequências políticas, sobretudo tendo em conta a fragilidade do Estado letão.

Parece-me muito difícil justificar o que o BCE fez, mas, de facto, a decisão que a UE há meses tomou (sob pressão da Alemanha) de tratar caso a caso a crise no leste europeu não deixa muitas alternativas.

Na prática, o BCE está a salvar os bancos suecos das más decisões que tomaram no passado, visto que uma desvalorização do lat implicaria grandes perdas para eles. Não fica claro, porém, em que é que a desvalorização da moeda de um pequeno país de 2,2 milhões de habitante seria pior para a estabilidade financeira da UE do que a solução agora escolhida.

Também não fica claro por que não há-de ser o próprio Estado sueco a prestar socorro aos bancos do seu país, pagando o preço de, no passado, ter decidido ficar fora da zona euro.

É difícil deixar-se de tirar a conclusão de que a submissão à disciplina do euro não traz vantagens significativas aos países que o adoptaram, visto que os que não o fizeram são tratados com uma benevolência de que eles não gozam.
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