23.11.09

O endividamento explicado às crianças

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Vamos lá a ver se a gente se entende: o súbito agravamento do endividamento dos estados não é causado pelas políticas de combate à crise; é causado pelo colapso do sistema financeiro que causou a crise. Percebido?

Acontece que, em virtude dessa infeliz mas não inocente circunstância, o desemprego atingiu níveis inauditos em quase todo o mundo. Deitar a mão aos bancos foi uma tremenda injustiça, mas uma injustiça, para já, inevitável. Era o que faltava que os estados não tentassem agora fazer tudo o que está ao seu alcance para mitigar o sofrimento das dezenas de milhões de desempregados que, não tendo a mínima responsabilidade no sucedido, foram, porém, as suas verdadeiras vítimas.

Ninguém em seu perfeito juízo acha que o endividamento não tem importância nenhuma. Mas certos malucos permitem-se achar que é a única coisa importante.

Até onde terá que crescer o endividamento? Confesso que não sei.

Se tudo voltasse rapidamente à normalidade, a intervenção pública deveria reduzir-se rápida e drasticamente. Mas eu não acredito que a economia vá regressar rapidamente à normalidade, de modo que o mais natural é que os estados não possam deixar de sustentar a procura e o emprego nos próximos tempos.

Não baralhemos, pois, as coisas. A responsabilidade dos custos extraordinários que todos suportaremos não deve ser atribuída aos desempregados, mas aos que lucraram com a bolha que nos trouxe até aqui e aos que justificaram os seus actos com teorias tontas e interesseiras.

A finalizar, um último ponto. O que vem a ser, precisamente, um nível de endividamento público excessivo? Sessenta por cento, oitenta por cento, cem por cento do produto? E por quê?

Para nos situarmos, considerem que qualquer família que adquira casa própria costuma endividar-se numa proporção bem superior a 100% do seu rendimento anual. Por hoje, fiquemos por aqui.

Próxima paragem: as consequências do endividamento público sobre o nível das taxas de juro.
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