18.12.09

Red Bull não lhes deu asas

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Os salários são mais baixos e o desemprego mais alto no Norte do país, e a tendência é para a situação piorar.

Ontem, alguns distraídos souberam pelos jornais que o produto per capita da região de Lisboa é superior à média da UE (o que já é verdade faz tempo), ao passo que o Norte ficou para trás.

Falta acrescentar que a crise económica do país é, na verdade, a crise do Norte, cuja posição relativa não tem parado de degradar-se na última década. Distante dessa realidade, muita gente na capital não se dá conta de como pioraram as condições de vida de muitos portugueses.

No Norte estava e está instalada uma boa parte da capacidade industrial do país. Logo, a decadência das indústrias tradicionais (têxtil e vestuário em primeiro lugar), assentes em trabalho muito pouco qualificado e barato, fez-se sentir lá mais que em qualquer outro lado.

É estranho que, num país tão obcecado com a divergência em relação à UE, ninguém note a divergência interna que em boa parte explica essa divergência externa. Ou talvez eu devesse antes estranhar que as elites dirigentes do Norte não reconheçam nem enfrentem essa situação.

Ao que parece, a única coisa que as incomode e mobiliza é a Red Bull transferir um evento do Porto para Lisboa, ainda por cima em circunstâncias que confirmam a sua estranha apatia.

É a altura de o povo do Norte começar a perguntar-se se uma parte das desgraças que o afligem não se deverá em grande medida à parlapatice dessas elites, sempre mais prontas a debater o 4-3-3 na televisão do que o relançamento da região cujos destinos tão negativamente influenciam.
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