6.12.09

A tragédia do povo russo

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Depois de ler "A People's Tragedy: The Russian Revolution (1891-1924)" de Orlando Figes fica-se com a impressão de ter conhecido pessoalmente todas as pessoas que, de uma forma ou de outra, participaram na Revolução Russa, ou seja, não apenas Nicolau, Lenine, Kerensky, Trotsky ou Denikine, mas também as mulheres que durante dias, ao frio, faziam bicha para comprar pão, os manifestantes de Fevereiro massacrados quando se propunham entregar uma petição ao czar e os fuzileiros checos que, para regressarem a casa, tiveram que atravessar, sempre combatendo, toda a Ásia rumo a Vladivostok.

Onde estava Trotsky quando começou a revolução de Fevereiro? Como ocupou o seu tempo Lenine a bordo do comboio que o trouxe até à estação da Finlândia? Exactamente com quem dormiu Krupskaya em determinado dia? Orlando Figes conta tudo isso e muito mais.

Na véspera do assalto ao Palácio de Inverno, Kerensky abandonou São Petersburgo para ir buscar reforços dispostos a defender o Governo Provisório. Seria essa justificação um mero pretexro para encobrir a fuga, ou terá ele dito a verdade? Figes foi analisar os movimentos da conta bancária e concluíu que, como, antes de partir, o chefe do governo levantou apenas uma pequena quantia, e não, como faria alguém em fuga, a totalidade do seu dinheiro, parece que podemos confiar na sua explicação.

O mais espantoso, porém, é que a atenção ao detalhe não impede Figes de nos transmitir as grandes tendências subjacentes aos acontecimentos de transcendente importância para o mundo que abalaram a Rússia entre 1891 e 1924. Mais ainda, apesar de o autor não alimentar quaisquer ilusões sobre o sentido geral da revolução russa e as suas consequências - o título "A People's Tragedy" diz tudo - ele não cede nunca à tentação hoje tão comum em historiadores de meia tigela de recorrerem ao acerto de contas com mortos no intuito de exibirem a sua própria suposta superioridade moral.

De longe a melhor, mais completa e mais instrutiva coisa que jamais li sobre a revolução russa.
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1 comentário:

Anónimo disse...

Já leu o Natasha's Dance, do mesmo autor? é ainda mais espectacular.