16.9.11

O choque do óbvio

.
Quem recorda os rudimentos da microeconomia que se aprende nas escolas sabe que o preço de um bem ou serviço deve ser igual ao seu custo marginal.

Ora o custo marginal da passagem de mais um carro numa auto-estrada não congestionada é zero; logo, nessas circunstâncias, o preço deve ser zero. A cobrança de portagem não tem racionalidade económica.

Agora, leiam isto:
Segundo se pode ler nesta peça do Público, “Governo remete resposta sobre portagens nas ex-SCUT para estudo do executivo “, as receitas obtidas com as atuais Ex-Scuts portajadas correspondem a 1/3 do esperado, pondo em causa a razoabilidade da nova modalidade dado que as infraestruturas, por um lado ficam claramente sub-utilizadas (diminuindo o seu potencial impacto positivo na atividade económica das respetivas regiões) e, por outro, não geram receitas significativas que permitam ajudar a financiar as compromissos assumidos pelos Estado junto das concessionárias. No estado atual as ex-scuts portajadas parecem representar uma situação de perda global para o Estado e para os utentes, eventualmente manter-se-á indiferente para as concessionárias.
Vêem o que acontece quando a estupidez toma conta de um país?
.

2 comentários:

António Parente disse...

Provavelmente as SCUTS não eram necessárias. É outra hipótese.

Luís Aguiar-Conraria disse...

Caro JPC, já há uns 5 ou 6 anos escrevi um artigo no Diário de Notícias a defender que, como regra, as auto-estradas não deviam ter portagens. O que motivou o meu artigo foi precisamente esta ideia de eficiência.
No entanto, não me parece que a principal estupidez esteja aí. A estupidez parece-me estar na construção de auto-estradas que com ou sem portagem não se justificam, isto por um lado, e por outro lado, haver acordos de concessão, as tais SCUTs, em que empresas privadas têm lucros garantidos. Se queremos fazer P=CMg=0, tudo bem, mas então que os lucros sejam nulos, que as transferências do Estado sirvam para assegurar as obras e manutenção necessárias. Numa palavra, não se privatizem as estradas.
Se as privatizam, então não faz sentido que o Estado faça uma transferência por cada utilizador, mas que cada utilizador use a auto-estrada como se o preço fosse zero. Este tipo de contrato, muito facilmente, gera lucros anormais, que mais não são do que uma captura de rendas.