25.6.12

"Se calhar parece mal..."

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O comentário político é em Portugal altamente previsível, se calhar porque deveria antes ser classificado na categoria da ruminação.

O que nós temos de facto é um mantra repetido ad nauseam com ligeiríssimas e quase insensíveis adaptações à natureza do assunto em debate.

Assim, a preocupação de parecer "bom aluno", fazer o que nos mandam e jamais lançar a suspeita de que temos vontade própria encaixa belissimamente na regra de evitar todos os comportamentos que possam "parecer mal".

O grande argumento contra forçar a renegociação com a troika não é nem mais nem menos do que este: pode parecer mal e prejudica a imagem que temos lá fora. Como se nós tivéssemos lá fora alguma imagem.

Portugal assemelha-se àqueles adolescentes complexados que imaginam toda a gente a censurar-lhes com olho crítico as borbulhas, a caspa e os ridículos penteados, quando a  triste verdade é que ninguém quer saber deles para nada ou dá sequer pela sua presença.
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20.6.12

Coisas que convém saber sobre os mercados laborais

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Se os mercados de trabalho na Alemanha são tão desregulados, porque é que não há lá supermercados ou centros comerciais abertos ao sábado à tarde e ao domingo?

Acertou: é porque os sindicatos não deixam.

Outra pergunta: porque é que, a bem dizer, não há salário mínimo na Alemanha?

Porque os sindicatos negoceiam salários mínimos por sector e profissão e depois há uma lei que obriga à sua aplicação aos trabalhadores não sindicalizados.

Em contrapartida, em países como Portugal, sendo os sindicatos fracos, torna-se necessária a intervenção legislativa do estado para os proteger. Mas o resultado final vem a ser o mesmo. Ou vinha, porque já não é.

E já agora, para terminar, porque são tão fracos os sindicatos em Portugal? Basicamente, porque, ao contrário do que sucede na Alemanha e noutros países, os trabalhadores estão dispersos por uma miríade de pequenas empresas e localidades, e isso dificulta a sua organização.

Tudo tem uma explicação, mas é claro que um macroeconomista sentado no seu escritório no BCE ou no FMI não sabe nem quer saber disso para nada. Eles só se interessa por factos, e apenas na condição de que sejam "factos" do tipo reconhecido como tal pelos modelos com que trabalham. Caso contrário - santa paciência - não existem.
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19.6.12

Não se pode tomar banho duas vezes nas águas da mesma Europa

"A Alemanha é hoje um camião TIR a circular pelas auto-estradas europeias na noite escura, de luzes apagadas e fora da mão. Para cúmulo, Merkel adormece com frequência ao volante."

Ler o resto aqui.

15.6.12

Não sei se me atire ao trabalho ou se espere para ver o que acontece ao euro

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Reuniões para coordenar, trabalho para planear, relatórios para entregar, aulas para preparar, uma conferência para organizar, exames para corrigir, trabalhos para classificar - esta e as próximas semanas prometem deixar-me completamente de rastos.

Mas a relevância de tudo isto é meramente teórica se a UE ruir, porque, nessa eventualidade, não serei recompensado por toda esta canseira. O mais racional seria talvez esperar para ver em que fica o euro do Reno.

Como se isso não bastasse para me derreter os miolos, nos jornais debate-se pela enésima vez as limitações da alma lusitana e a sua responsabilidade no atraso das reformas estruturais.

É tudo tão lento...
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6.6.12

Políticos grátis

"Começamos assim a perceber onde nos leva a arruaça demagógica que, desde há tempos, se encarregou de empurrar cada vez mais para baixo os vencimentos dos titulares de cargos públicos e similares. Não tarda, ninguém oriundo da classe média poderá dar-se ao luxo de dedicar a sua vida à actividade política, seja como autarca, deputado, ministro ou Presidente da República. Tais posições só poderão ser assumidas por aqueles que, dispondo de fortuna pessoal ou de outros rendimentos de proveniência mais ou menos clara, possam dar-se ao luxo de trabalhar gratuitamente."

O resto do meu artigo de ontem no Negócios pode ser lido aqui.

5.6.12

Leitura do dia

Uma lição de vida em duas linhas:

"This leader had performed no special task. He had no special virtue. He'd been chosen at random, 30 minutes earlier. His status was nothing but luck. But it still left him with the sense that the cookie should be his."

Isto fez-vos lembrar alguém? Aposto que sim. Mas o melhor é ler mesmo na íntegra a extraordinariamente educativa alocução de Michael Lewis na recepção aos novos alunos de Princeton (via @R_Thaler).

Uma iniciativa vergonhosa e deseducativa

Deveria ser uma vergonha absoluta para uma universidade de economia associar-se a iniciativas demagógicas sem qualquer sustentação séria como a comemoração do chamado "dia da libertação dos impostos".

É fácil perceber-se a eficácia propagandística da coisa falando com os cidadãos comuns (ou mesmo com alguns não tão comuns), os quais imaginam que o grosso dos impostos serve para pagar os salários dos políticos, ou, no melhor dos casos, os dos funcionários públicos.

E que tal se a Universidade Nova passasse a assinalar também o "dia da libertação do Serviço Nacional de Saúde", o "dia da libertação da educação", o "dia da libertação dos tribunais", o "dia da libertação das infraestruturas de transportes e comunicações" e o "dia da libertação da segurança pública"? Talvez fosse mais educativo, não?

Outra ideia: registar o "dia da libertação do crédito imobiliário", o "dia da libertação do retalho alimentar" e o "dia da libertação da água, do gás e da electricidade".

Sabem onde é que o "dia da libertação dos impostos ocorre mais cedo"? É em países como o Gana, o Afeganistão e o Bangladesh. Pois.

As universidades deveriam ser centro de difusão do conhecimento, mas a Faculdade de Economia da Universidade Nova prefere irradiar obscurantismo ao serviços de interesses obscuros.

3.6.12

O que Portugal exportava em 1995

. Comparar com a situação em 2009, representada no post anterior. .

Afinal, o que é que Portugal exporta?

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 Para saber mais, consultar este fascinante site.
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