4.1.13

Morrer na praia?

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Algumas pessoas, cujas opiniões respeito, têm vindo a defender nos últimos tempos que, por muito má que seja a política económico-financeira subjacente aos OE2013, a sua aplicação é indispensável para evitar que o país “morra na praia”.

Subjacente a esta tese parece estar a ideia de que, tendo o país feito já o essencial do seu caminho e estando a meta à vista, não será este o momento de desistir.

O argumento faz-me confusão, porque não entendo que caminho fez o país até agora. Dentro de dias confirmar-se-á que o défice de 2012 será idêntico ou marginalmente inferior ao de 2011, apesar de um programa que, entre aumento de receita e redução de despesa, se propunha reduzi-lo em 9 mil milhões de euros. Decorre daí que não só o endividamento do estado aumentou, como parece evidente que continuará a aumentar nos próximos anos.

Contrapõem-nos que os juros da dívida pública portuguesa baixaram drasticamente nos mercados secundários. Porém, como o mesmo sucedeu na generalidade da zona euro (e na Grécia mais que nos restantes), prova-se que a sua variação depende muito mais das decisões do BCE do que daquilo que os países façam ou deixem de fazer para equilibrar as suas contas – opinião que quem estas linhas escreve sempre defendeu. Objectivamente, a situação do país piorou em todos os aspectos (o mesmo sucedendo com a Espanha, a Irlanda, a Grécia, a Itália e a França), mas os juros baixaram. Estão a ver?

Ao fracasso financeiro do governo soma-se o económico: queda acentuada do produto, dramático agravamento do desemprego, falências em série, empobrecimento descontrolado da população, redução da produtividade horária, quebra da confiança nas pessoas e nas instituições – tudo isso torna claro que crescem os obstáculos a qualquer redução futura do défice até se chegar aos desejados 2,5%, tanto mais que ele nem buliu em reacção ao tratamento de choque aplicado em 2012.

Não, caros amigos, a praia não está à vista. Bem pelo contrário, fortes correntes cuja direcção e ímpeto não controlamos estão a puxar-nos irremediavelmente para o mar alto. Só uma inversão urgente e decidida do rumo até hoje seguido poderá evitar o desastre iminente.
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