2.1.13

Um discurso incoerente e irresponsável

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Cavaco entende que o OE2013 é injusto na repartição dos sacrifícios, razão pela qual decidiu enviá-lo ao TC para fiscalização. Minutos depois, declara que o país não pode neste momento dar-se ao luxo de uma crise política. Por outras palavras, pede por todos os santinhos ao TC que perdoe ao governo mais esta maldade

O Presidente poderia ter evitado a crise política que tanto teme. Primeiro, tentando persuadir o governo a corrigir o OE mal tomou conhecimento do essencial da proposta apresentada à AR. Segundo, se essa iniciativa falhasse, promovendo a fiscalização preventiva, garantindo que o TC emitisse a sua posição até final de Janeiro.

Não fez nem uma coisa nem outra, pelo que, se o país ficar a meio do ano sem OE e sem governo, a responsabilidade será sua.

O outro ponto saliente do discurso é a tardia adesão à tese segundo a qual “sem crescimento não há consolidação orçamental”. Cavaco finge não entender que a estagnação da Europa (que prejudica as nossas exportações) é um efeito inevitável da austeridade generalizada imposta a todos os países do continente. Vai daí, pede crescimento com austeridade e sem contestação do memorando de entendimento.

E donde virá então esse crescimento? Na ideia do Presidente, deveremos “exigir o apoio dos nossos parceiros europeus”. E em que consistirá essa exigência, se ela não deverá envolve nem uma renegociação tendo em vista o alívio das medidas de austeridade, nem a redução dos juros, nem o prolongamento do período de redução do défice?

Adivinhe quem quiser. Pela minha parte, tendo em conta a histórica crença natural de Cavaco, estou em crer que ela envolverá o pedido de fundos estruturais em condições mais favoráveis para aplicação em projectos considerados prioritário pela UE. (Sem dúvida do tipo do TGV, que dará um impulso às indústrias da França e da Alemanha…)

Mas serão talvez inúteis estas interrogações, dado que, na parte final do seu discurso errático, o Presidente parece acreditar que, afinal, o crescimento resultará, como que por milagre, do mero empenho de cada um “em fazer bem o que lhe compete”.

Em suma, mais do que uma viragem, a mensagem de fim do ano do Presidente da República confirma o seu empenho em fazer tudo o que estiver ao seu alcance para evitar chatices e atirar os problemas para cima dos outros.
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